Bons ventos sopram em Sergipe. Literalmente. Prova disto é a instalação do primeiro parque eólico, a ser inaugurado em 2012, que pode ser considerado o primeiro grande passo para a produção de energia renovável no Estado. Nele serão gerados 30 Megawatts por ano em uma área com 30 hectares no Município de Barra dos Coqueiros. Um investimento de R$ 160 milhões que vai reverter, por ano, R$ 6 milhões em impostos.
O projeto confirmou a posição intermediária de Sergipe no potencial de geração no sistema eólico. No Nordeste o estado perde apenas para Rio Grande do Norte e Ceará, mas está à frente de Pernambuco e Alagoas.
Ainda há muito para ser explorado. Para tanto é crucial, conforma explica o professor de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Milthon Serna, a utilização do Mapa Eólico do Estado. É ele que define as áreas onde novos parques eólicos podem ser instalados. Até 2009, entretanto, esse documento ainda não existia. Com a elaboração dele, através de um estudo coordenado pelo pesquisador em parceria com a Secretaria Estadual de Planejamento (Seplan), mais três empresas passaram a se interessar em gerar esse tipo de energia em terras sergipanas.
“Primeiro nós detectamos dez áreas em todo o território sergipano, depois trabalhamos mais especificamente nos litorais norte e sul, compreedendo as praias da Caueira e Abaís, além dos Municípios de Pacatuba, Poço Verde e a região de Xingó”, destaca Milthon Serna. Ele ressalta, no entanto, que nem todas essas localidades podem servir para a instalação dos aerogeradores. “Não adianta ter um local com bons ventos se ele não tem uma estrutura de acesso, pois o projeto acaba se tornando inviável. Vamos detectar onde há infraestrutura necessária e descartar aqueles que possam gerar algum impacto ambiental, como reservas ecológicas”, revela o pesquisador.
Todas as informações necessárias ao Mapa Eólico foram coletadas em estações metereológicas, em torres com 10 a 15 metros de altura. “Mas elas só determinam as convicções climáticas, como previsão de chuvas, sol e direção de ventos. Elas não certificam com total certeza”, esclarece o professor, que contou com a participação do estudante Bruno Barretto Anunciação.
Novos dados
Para aprofundar os estudos dessas condições a pesquisa partiu para uma segunda etapa, onde, em parceria com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, da Ciência, Tecnologia e Turismo (Sedetec) e com o Sergipe Parque Tecnológico (SergipeTec), serão instaladas cinco torres de 100 metros de altura, especificas para a coleta desses dados. “Com elas será possível ter uma garantia do potencial de Sergipe para gerar energia eólica”, garante Milthon Serna. Além disso, os resultados serão integrados, ainda, por um mapa geoelétrico e um mapa de impacto ambiental.
De nada adianta, no entanto, o Estado oferecer as melhores condições ambientais se as empresas não se sentirem atraídas. O professor Milthon Serna entende que é necessário haver uma contrapartida do Poder Público. “Ter um diferencial de impostos para as empresas que instalem os parques eólicos é uma maneira de incentivar os investimentos. Há outras maneiras, como a venda de créditos de carbono. Uma forma de criar recursos extras. A energia eólica não é poluente”, ressalta.
Tendência
A produção de energia renovável em todo o mundo tomou um caminho sem volta. O crescimento da produção é rápido inclusive no Brasil. A realização de leilões específicos, como o que a empresa sergipana Energen venceu em 2009 para a produção de 2 Gigawatts no parque eólico do Município de Barra dos Coqueiros, só começaram a acontecer nos últimos dois anos. Os primeiros parques eólicos do país são também recentes, mas datam dos anos de 2003 e 2004.
Por isso a matriz energética, nesse caso, não representa nem 1,5% de toda a energia elétrica produzida no país. “Na Alemanha esse índice é de 27%. Os Estados Unidos só no ano passado instalaram quase 6 Gigawatts de potência no sistema eólico. É uma coisa inevitável, não só no caso da eólica, mas todo o tipo de energia não poluente. É uma tendência que vai crescer”, confirma o pesquisador.
(Blog UFS Ciência, INfoNet, 27/10/2010)