A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) convocou a comunidade mundial a preservar e fomentar a biodiversidade agrícola, pois teme que sua perda ameace a segurança alimentar, destacou em um relatório sobre os recursos fitogenéticos.
O informe, um dos mais completos sobre o tema, é o segundo feito pela FAO e foi divulgado nesta terça-feira, em Roma, sede da entidade.
"A diversidade genética das plantas que cultivamos e que nos servem de alimento e seus 'parentes silvestres' poderia se perder para sempre, ameaçando a segurança alimentar no futuro", afirmam especialistas da agência especializada das Nações Unidas.
É preciso "redobrar os esforços, não só para conservá-las, mas também para utilizá-las, especialmente nos países em desenvolvimento", pediram.
O relatório, de 350 páginas, considera que a perda da biodiversidade "terá grande impacto na capacidade da humanidade se alimentar no futuro".
"Existem milhares de variedades silvestres de cultivos que devem se coletadas, estudadas e documentadas porque escondem segredos genéticos que lhes permite resistir ao calor, à seca, à salinidade, às inundações e às pragas", advertiu o diretor-geral da FAO, Jacques Diouf.
Os especialistas da FAO reconhecem que, depois de doze anos do primeiro informe sobre o estado dos recursos fitogenéticos para a alimentação e a agricultura no mundo "o panorama alimentar ao nível mundial mudou de forma drástica".
Embora o informe não tente quantificar a perda da biodiversidade, "a evidência empírica aponta a uma contínua extinção da biodiversidade agrícola que reduz a diversidade dos cultivos alimentares tradicionais que sobreviveram durante o século passado", sustentou.
A FAO calcula que 75% da diversidade agrícola tenha se perdido entre 1900 e o ano 2000.
Um estudo mencionado pelos especialistas prevê que entre 16% e 22% dos parentes silvestres de importantes cultivos alimentares, como o amendoim, a batata e os feijões desaparecerão até 2055 por causa das mudanças climáticas.
"Apenas cinco variedades de arroz fornecem hoje 95% do total da colheita nos principais países arrozeiros", destacaram os especialistas.
Com tom mais positivo, o documento destaca que, durante os últimos 12 anos, "houve um aumento da conscientização" sobre a importância de proteger e utilizar a diversidade genética dos cultivos agrícolas.
"Os bancos de genes viram aumentar seu número e tamanho. Existem hoje cerca de 1.750 bancos de genes em todo o mundo", comentou a agência, destacando que em 2008 se fundou na Noruega a grande reserva da diversidade agrícola mundial, o Depósito Mundial de Sementes de Svalbald.
Do total de 7,4 milhões de amostras conservadas no mundo, os bancos de genes dos governos nacionais conservam 6,6 milhões, 45% dos quais estão em apenas sete países, contra os 12 existentes em 1996, destacou a FAO.
É chave "contar com mecanismos que garantam o acesso a tais recursos", como diz o Tratado sobre os Recursos Filogenéticos para a Agricultura e a Alimentação, destacou a FAO.
O Tratado foi ratificado por 125 países e estabelece um marco para compensar os camponeses pobres pela preservação das diferentes variedades genéticas dos cultivos.
Para as Nações Unidas, que declararam 2010 o Ano Internacional da Biodiversidade, "é necessário estabelecer sistemas adequados para por as nuevas variedades nas mãos dos camponeses através tanto do setor público como de outros atores".
(AFP, 27/10/2010)