O fenômeno La Niña já começa a trazer reflexos na lavoura de verão gaúcha. Os mais atingidos são os produtores de arroz da Metade Sul, que precisam de água para que as plantas possam emergir. Dados das estações convencionais do Inmet demonstram que, nos últimos 45 dias, o volume de precipitações está muito abaixo da média para o período. No município de Bagé, por exemplo, entre 1 e 15 de outubro e 15 e 30 de setembro o total de chuvas atingiu 35,1 mm, enquanto, em condições normais, o esperado seria 200 mm. Em Santa Vitória do Palmar, a situação é ainda mais preocupante. De 15 de setembro até 15 de outubro, choveu 9 mm perante os 140 mm esperados em condições normais. Apesar de o problema concentrar-se na Metade Sul, as regiões Sudeste e Norte também sofrem.
Segundo o presidente da Federarroz, Renato Rocha, a preocupação é com a umidade do solo. "No início do plantio, tínhamos condições boas, com calor e umidade, mas agora está muito seco e os produtores estão precisando banhar o arroz para que ele brote." Ele destaca que, nas lavouras plantadas, 30% do arroz já nasceu e parte ainda está sendo banhada. O restante aguarda a chuva para viabilizar a semeadura. Rocha considera que seria necessário chover pelo menos 50 mm. O presidente do Irga, Mauricio Fischer, avalia que o uso dos reservatórios hídricos neste momento para ajudar na brotação é menos prejudicial do que mais adiante porque há mais chance de recuperação. "A partir de novembro será mais difícil devido ao calor. Agora, o volume utilizado é menor porque o frio ajuda a manter a umidade."
Rocha explica que, com a necessidade de banhar as áreas plantadas, o nascimento é desigual e, na maioria dos casos, a água utilizada é a que estava reservada para a irrigação. "Poderá faltar água no ciclo final da cultura. Os primeiros que sofrerão são aqueles que dependem de recursos hídricos, porque poderá baixar os níveis nas lagoas dos Patos e Mirim e entrar água salgada nas lavouras." Dos 1,1 milhão de hectares estimados para a cultura no Estado, 54% da área está plantada. Segundo Fischer ainda se estima que sejam colhidas entre 7,5 milhões e 8 milhões de toneladas.
A MetSul classifica o La Niña deste ano como um dos episódios mais intensos dos últimos tempos e destaca que a tendência é de manutenção da seca, com possibilidade de intensificação, até os meses de fevereiro e março, quando o evento começará a perder força, após o pico de estiagem no mês de dezembro. Modelos climáticos apontam que episódio semelhante de La Niña ocorreu em 1989.
(Correio do Povo, 26/10/2010)