A persistência de uma caricatura na primeira página do Globo, nesta semana, na qual a senadora Marina Silva aparece em cima de um muro, sendo assediada por Dilma Rousseff e José Serra, levanta a questão curiosa: Marina acertou ou errou ao se manter isolada do debate eleitoral no segundo turno?
Porque a imparcialidade alegada por ela só existe, se existir, em seu foro íntimo, pois seus assessores, companheiros de chapa e demais dirigentes e militantes do Partido Verde voltaram aos seus recantos anteriores ao início da disputa eleitoral.
Dentro dessa questão, está na hora de analisar se o movimento pela sustentabilidade ganhou ou perdeu com a atitude da senadora, e se ela, pessoalmente, guarda algum cacife para a eleição de 2014, como supostamente é sua intenção.
Neutralidade nada neutra
Num cenário de total conflagração, no qual o partido no poder luta para dar continuidade ao projeto do atual governo e o candidato da oposição dá a vida para não perder sua melhor oportunidade para chegar à Presidência da República, alguns analistas questionam se foi acertado assumir uma neutralidade que, todos sabem, nada tem de neutra.
No nível de exacerbação ao qual chegou a campanha, com os candidatos trocando a apresentação de programas de governo por encenações patéticas e discursos destinados a agradar a meia dúzia de fanáticos religiosos, manter-se em cima do muro mais confunde do que esclarece o eleitor, como pontua Eugênio Bucci em seu artigo no Estadão desta quinta-feira [21/10].
Mas, muito para lá da vida pessoal e da carreira política de Marina, é preciso refletir o que ganha – ou perde – o movimento pela sustentabilidade com sua representante no embate eleitoral em atitude de Pôncio Pilatos.
Não se sabe quantos, entre os vinte milhões de votos que ela obteve no primeiro turno, têm origem na consciência da defesa do patrimônio ambiental, e quantos foram votos de protesto contra a baixaria da campanha.
Nem o meio ambiente entrou na pauta política, nem a baixaria saiu de cena.
Ao se omitir, Marina certamente esvazia um pouco seu carisma.
E a agenda da sustentabilidade fica de fora no segundo turno.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, Envolverde, 25/10/2010)