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pesca pesca monitorada poluição em rios
2010-10-26 | Tatianaf

No Caribe Sul, junto à costa da Venezuela, a pesca diminui, as águas esquentam na superfície, os rios descarregam toneladas de dejetos e o mar lambe as feridas deixadas pela pesca de arrasto e por outras técnicas invasivas. “A pesca já diminuiu muito, os rios que deságuam aqui contaminam, as águas esquentam, o pescado segue outros rumos e, então, o que antes conseguíamos a 15 milhas da costa e a seis metros de profundidade, agora temos de buscar a 50 ou 60 milhas e a mais de 20 metros água abaixo, com barcos que não são adequados a isso”, disse ao Terramérica o pescador Daniel Córdoba, da região de Carenero, 80 quilômetros a leste de Caracas.

A Venezuela, de 28 milhões de habitantes, tem uma produção pesqueira de 400 mil toneladas anuais, segundo o Instituto Socialista de Pesca e Aquicultura, e em suas costas trabalham cerca de 30 mil pescadores, a maioria a bordo de pequenos barcos artesanais. “Há alguns anos, nesta faixa da costa (centro-oeste), em qualquer dia a gente via dezenas de barcos trabalhando. Eu, que saio todos os dias para pescar, creio que agora, em certas ocasiões, pode haver até mil”, disse ao Terramérica Cedrick McGregor, um veterano pescador de origem jamaicana.

Luis Acuña, especializado no uso de arpão, concorda com Daniel e Cedrick em que “o que antes conseguíamos em um ou dois dias de trabalho agora o fazemos em quatro ou cinco”. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), a pesca em excesso, a superexploração dos recursos marinhos, faz com que 30% das populações de peixes, moluscos e crustáceos estejam superexploradas ou esgotadas em todo o mundo. Já estão exploradas em seu limite 50% das populações e apenas 20% são capturadas abaixo de sua capacidade.

“Não há recurso que aceite um aumento do esforço pesqueiro como o das últimas décadas. É um problema planetário, na costa da Terranova (Canadá) ou do Mediterrâneo, a sobrepesca já deixa menos de 10% dos recursos conhecidos”, disse ao Terramérica o biólogo Juan José Cárdenas, da organização não governamental The Nature Conservancy, com sede nos Estados Unidos. Na Venezuela, “não há pesqueiro que admita um quilo mais de esforço de pesca, e os volumes de captura e os circuitos econômicos estão comprometidos pela queda das populações”, afirmou.

A maior atividade esteve acompanhada por décadas por práticas como a pesca de arrasto, “que deteriorou muito os fundos marinhos, mas o presidente, e digamos a revolução, levaram em conta esse problema e agora regressam espécies como o robalo grande (Dicentrarchus labrax) ou a anchova (família Engraulidae), das quais há anos não fazíamos boas capturas”, disse ao Terramérica Román Blanco, outro pescador da região. Em 2001, um decreto-lei do presidente Hugo Chávez proibiu a pesca de arrasto a menos de seis milhas da costa firme ou a menos de dez milhas das ilhas, e em 2008 ficou definitivamente eliminada, o que afetou cerca de 270 embarcações que produziam aproximadamente 10% do pescado que era consumido no país.

“A pesca de arrasto foi uma praga. Removeu os fundos marinhos, afetou os corais, desapareceram das margens espécies como a tainha (Mugilidae) e peixe-galo (Selene setapinnis), e agora as buscamos com trabalho mais árduo, a 45 ou 50 milhas da costa”, disse o pescador Germán Curbelo. No entanto, “a redução da população de peixes não se deve apenas à exploração inadequada, mas também pela contaminação. A região que estamos pisando (a planície de Carenero) tem sete estações de tratamento de esgoto e nenhuma funciona”, disse ao Terramérica a bióloga Evelyn Pallotta.

“Todos os efluentes líquidos, da agricultura, indústrias, residências ou instalações turísticas, sem tratamento, acabam em rios que deságuam no Caribe ou diretamente no mar, com contaminantes dispersados pelas correntes marinhas”, explicou Evelyn. Na região desemboca o Rio Tuy, e um de seus afluentes, o Guaire, cruza a cidade de Caracas e leva seus esgotos e efluentes industriais, recordou a diretora-geral de Ecologia e Meio Ambiente do Estado de Miranda.

A produção de dióxido de carbono e outros gases, que pela atmosfera entram em contato com o mar, acidificam as águas e, tal como o aumento da temperatura global, geram mudanças físico-químicas que afetam os corais onde os peixes se criam e são geradas soluções que contêm os nutrientes que os alimentam. “Alteram-se as condições nas quais se desenvolve, por exemplo, a sardinha, que depende da quantidade e qualidade do plâncton. Seu crescimento larval se altera. A sardinha é uma espécie forrageira, alimenta-se essencialmente de vegetais e é alimento de espécies maiores, sustentando, assim, a cadeia trófica”, disse Juan José.

As águas do Caribe Sul, “há uns dez anos eram frias durante nove meses, quando havia muita sardinha e outros peixes. Agora, a época fria é de seis ou no máximo sete meses”, disse Germán. “O cúmulo é que, às vezes, tem pescador que deixa as redes montadas à noite e, quando vai recolher a coleta, encontra peixes cozidos pela água aquecida, e assim já não servem. Isso não acontecia há dez ou 15 anos”, disse o pescador Aníbal Chiramo.

Especialistas e pescadores concordam em exigir assistência governamental para modernizar os barcos, deixá-los mais seguros, mudar as técnicas de pesca que as deixem mais precisas, com menos capturas incidentais, e desenvolver centros de abastecimento, refrigeração e transporte que melhorem o acesso aos consumidores. Além disso, disse Evelyn, é preciso “atacar a contaminação em suas raízes, melhorar os sistemas de medição, avaliação e controle, e não permitir atividades poluentes sem programas de tratamento e reversão”.

(Por Humberto Márquez, Terramérica, IPS/Envolverde, 26/10/2010)


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