Palau, um dos aliados mais próximos do Japão em matéria de caça comercial de baleias, declarou, no dia 23, todo seu território marinho, com mais de 600 mil quilômetros quadrados, reserva de cetáceos, dugongos, tubarões e outras espécies. “Não haverá mais caça em nossas águas e não serão molestados os mamíferos marinhos nem outras espécies”, disse o ministro de Meio Ambiente, Recursos Naturais e Turismo de Palau, Harry Fritz. “Pedimos urgência às demais nações para que se unam aos nossos esforços no sentido de proteger as baleias, os golfinhos e outros animais marinhos”, acrescentou o ministro em entrevista coletiva na 10ª Conferência das Partes do Convênio sobre Diversidade Biológica, que começou no dia 18 e terminará no dia 29 nesta cidade.
Há muitos anos, o Japão procura anular a proibição mundial da caça comercial de baleias com o apoio de Palau. O Japão é o maior doador de assistência ao desenvolvimento desse país insular, depois dos Estados Unidos. Além disso, muitos japoneses escolhem suas ilhas como destino turístico porque há muita gente que fala seu idioma. “Agora Palau está a favor de conservar os mamíferos marinhos, tubarões e outras espécies”, afirmou Susan Lieberman, diretora de política internacional da organização norte-americana Pew Environment Group (PEW). “É um anúncio muito significativo”, disse à IPS.
Segundo Harry, “o Japão continuará sendo nosso melhor amigo e esperamos trabalhar em harmonia para conseguir objetivos comuns”. Palau é um Estado insular do Oceano Pacífico, 800 quilômetros a oeste das Filipinas e 3.200 quilômetros ao sul de Tóquio. É uma das menores nações do mundo, com 22 mil habitantes. O país foi invadido pelo Japão na Primeira Guerra Mundial (1914-1918), que incentivou a imigração de japoneses até a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando os Estados Unidos ocuparam a região.
O presidente de Palau, Johnson Toribiong, há um ano, anunciou na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas que suas águas jurisdicionais, com superfície semelhante à da França, seriam uma reserva de tubarões. Metade desta espécie está em risco de extinção, especialmente pela prática do consumo de suas barbatanas. Palau tem, pelo menos, 11 espécies de baleias, incluída uma população de cachalotes que mergulha a mais de três quilômetros de profundidade perseguindo sua presa.
Outras 30 espécies de cetáceos e golfinhos também poderão aproveitar as ricas águas que rodeiam Palau, disse Harry. “A reserva vai promover o turismo de avistamento de baleias, que já é um setor multimilionário e uma oportunidade econômica para a população de Palau”, acrescentou. Desde 1986, vigora uma proibição mundial de caça à baleia. Mas o Japão mata entre 600 e 900 baleias minke por ano no Mar Antártico para o que chama de “pesquisa científica”, permitida no contexto da proibição. Noruega e Islândia também caçam determinada quantidade de baleias longe de suas costas.
Esses países, entre outros, fizeram forte pressão para pôr fim à proibição comercial de caçar espécies como a minke, cujas populações são estimadas em mais de um milhão de exemplares. A maioria das populações de baleias é cada vez menor, incluídas as do Oceano Pacífico, devido à caça praticada por empresas estrangeiras, disse Harry. A reserva de Palau tem apenas uma embarcação fornecida pela Austrália, operada pelo governo para patrulhar a vasta região. “Agradecemos ao Pew a doação de combustível para que possamos sair duas vezes por mês”, declarou à IPS.
“Recebi em agosto um informe de funcionários norte-americanos em Guam indicando que mais de 850 barcos pescam de forma ilegal em águas jurisdicionais de Palau”, acrescentou Harry. Alguns foram levados à justiça e multados pelo governo. Prática submarina, snorkel e outras atividades turísticas são as principais fontes de divisas estrangeiras de Palau, disse Susan, do Pew. “Baleias e tubarões valem muito mais vivos do que mortos para a população de Palau”, ressaltou.
(Por Stephen Leahy, Envolverde, IPS, 25/10/2010)