A produção de resinas plásticas a partir de fontes renováveis, como o etanol da cana-de-açúcar, destacará o setor petroquímico do Brasil no cenário internacional nos próximos anos. O presidente do Sindicato da Indústria de Resinas Plásticas (Siresp), Luiz de Mendonça, que assumiu em setembro a liderança da entidade até 2013, argumenta que o País apresenta boas vantagens competitivas nessa área.
O Siresp representa produtores nacionais de resinas plásticas que somam uma capacidade de produção de mais de 5 milhões de toneladas ao ano e um faturamento de cerca de US$ 4,9 bilhões.
JC Empresas & Negócios - Qual a perspectiva dos biopolímeros (como o plástico verde da Braskem) no mercado mundial e qual a sua previsão quanto ao posicionamento das empresas brasileiras nesse setor?
Luiz de Mendonça - O grande diferencial nacional na petroquímica está na utilização de matérias-primas renováveis, trazendo um novo conceito. O Brasil possui competitividade na produção do etanol, enormes áreas para produção de cana, sem comprometimento das áreas reservadas para a produção de alimentos. Além de tudo isso, conta com tecnologia avançada e clima propício para a cultura da cana. Esses fatores somados permitem ao País dispor do menor custo para a produção de etanol no mundo, o que o torna com a maior vocação para produção de biopolímeros. Desde que continuemos com o crescimento estruturado nesse setor, nenhuma outra nação poderá desbancar o Brasil.
Empresas & Negócios - O etanol será uma matéria-prima tão competitiva como o petróleo no futuro? Em quantos anos?
Mendonça - Para a produção de polímeros, não se espera que no curto prazo o etanol seja mais competitivo que as fontes petroquímicas. Mas tudo é em função do preço do barril de petróleo. A escassez do petróleo e o crescimento da economia tenderão a elevar o preço dos derivados fósseis. Somando-se isso aos desenvolvimentos tecnológicos no processo da bioquímica e perspectivas de integração produtiva (do campo à segunda geração), espera-se que esse ponto de equilíbrio seja atingido nos próximos cinco anos.
Empresas & Negócios - Como o senhor avalia o cenário do setor petroquímico?
Mendonça - O cenário é de consolidação do setor, em nível mundial. As empresas vencedoras serão aquelas que possuírem acesso ao mercado e às matérias-primas a custos competitivos. Houve uma mudança na relevância no eixo da petroquímica mundial e as empresas localizadas em países com maior crescimento econômico deverão prevalecer, como é o caso de nações da Ásia e Oriente Médio. O Brasil também se destaca nesse cenário, pelas grandes projeções de crescimento de seu mercado local.
Empresas & Negócios - Qual a expectativa de desempenho do setor?
Mendonça - Os anos de 2010 e 2011 ainda serão marcados por uma rentabilidade limitada no setor petroquímico. A economia mundial continua no processo de recuperação, assim como a demanda pelas resinas termoplásticas. As recentes entradas de capacidade de novas unidades competitivas, concentradas principalmente no Oriente Médio e na Ásia, elevaram a oferta de petroquímicos e ocasionaram a redução das taxas de operação no mundo, provocando a deterioração do balanço entre oferta e demanda.
Empresas & Negócios - E qual a perspectiva para um prazo maior?
Mendonça - Espera-se que esse balanço esteja melhor equilibrado a partir de 2012, quando a petroquímica tenderá a ganhar melhores margens. Será o início do ciclo de alta de rentabilidade, que deverá alcançar o seu pico em 2014. Os reflexos serão diretos no mercado nacional, visto que nossa dinâmica interna já caracteriza o mercado como internacional com a crescente presença dos players externos no Brasil e pela dinâmica global de formação de preços.
Empresas & Negócios - Que gargalos precisam ser resolvidos no setor petroquímico?
Mendonça - Quando falamos de petroquímica mundial ainda existem alguns movimentos de consolidação por acontecer. Espera-se a formação de cinco grandes players no setor: um árabe, um indiano, um chinês, um norte-americano e um sul-americano - sendo esses os vencedores naturais no processo por unirem os principais fatores de competitividade. No setor petroquímico nacional, as principais questões estão concentradas na competitividade de matérias-primas e nos transformadores. É preciso linhas de financiamento diferenciadas, desoneração da cadeia, modernização do maquinário, melhor capacitação da mão de obra e profissionalização do setor, matérias-primas em volumes confiáveis e condições competitivas etc.
Empresas & Negócios - Como o senhor avalia as condições de competição das petroquímicas brasileiras em relação às companhias internacionais?
Mendonça - O crescimento da economia e do mercado brasileiro são fatores importantes para a alavancagem da competitividade das petroquímicas. No entanto, o grande gargalo continua a competitividade das matérias-primas fornecidas localmente, com condições comerciais vinculadas a referências internacionais. Apenas como comparação, o custo da matéria-prima gás no Oriente Médio chega a ser de quatro a seis vezes menor que o custo do gás para os mesmo fins no Brasil. Outro ponto importante é o custo da energia elétrica no País. Temos produção de baixo custo, mas os encargos e a distribuição de energia transformam o preço para o produtor no mais caro do mundo.
Empresas & Negócios - Qual a sua avaliação desse movimento de internacionalização das petroquímicas?
Mendonça - O Brasil segue a tendência mundial de consolidação para ganho de competitividade. A união entre Braskem e Quattor irá permitir a obtenção de sinergias substanciais, além de uma matriz de matérias-primas mais diversificada e maior força no mercado da América Latina. A Braskem segue também a trajetória de outras empresas, como Vale, Gerdau e Marcopolo, que se tornaram estratégicas para o País e de relevância global. Parece-nos um movimento natural, como acontece com as chinesas, coreanas, indianas e árabes.
Empresas & Negócios - Que papel a Petrobras, como estatal, deve representar dentro do setor petroquímico?
Mendonça - É um papel relevante. Além de ser a principal fornecedora de matérias-primas, ela contribui para a geração e captação de valor agregado em toda a cadeia. Mas acredito que a Petrobras pode contribuir ainda mais como indutora do desenvolvimento da cadeia do plástico.
Empresas & Negócios - Que pleito o senhor faria ao novo presidente da República?
Mendonça - Não seria apenas um, mas todos aqueles estabelecidos no Pacto Nacional da Indústria Química, que já apresentamos ao governo brasileiro. Entre os temas estão: matérias-primas competitivas em preço, acesso ao crédito para fortalecimento da cadeia, financiamento a exportação, inovação e tecnologia, solução das distorções do sistema tributário, desoneração da cadeia e defesa contra a concorrência desleal. Também é necessário melhorar as condições ligadas à infraestrutura logística, distribuição de gás, portos, rodovias e o apoio decisivo do Estado ao desenvolvimento tecnológico do setor.
(Por Jefferson Klein, JC-RS, 25/10/2010)