Os sinais da mudança climática estiveram espalhados pelo Ártico neste ano — ar mais quente, menos gelo no mar, geleiras derretendo –, o que provavelmente significa que essa região, crucial para a definição do clima no resto do planeta, não irá voltar ao seu antigo estado mais frio, disseram cientistas na quinta-feira.
No estudo [Arctic Report Card], divulgado pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), cientistas norte-americanos, do Canadá, da Rússia, da Dinamarca e de outros países disseram que “um retorno às condições anteriores do Ártico é improvável.” Por Deborah Zabarenko, da Agência Reuters, com informações adicionais do EcoDebate.
As condições do Ártico têm grande influência sobre o clima nas latitudes temperadas do Hemisfério Norte, onde se concentra grande parte da população mundial. Nevascas nos EUA, norte da Europa e oeste da Ásia no inverno passado provavelmente tiveram relação com a maior temperatura atmosférica no Ártico, segundo os cientistas.
“O inverno de 2009-10 mostrou uma nova conectividade entre o frio extremo e a neve em latitudes médias e as mudanças nos padrões de ventos do Ártico”, disse o estudo.
Jackie Richter-Menge, do Laboratório de Pesquisa e Engenharia de Regiões Frias do Exército dos EUA, disse que a temperatura atmosférica na superfície do Ártico está aumentando ao dobro do ritmo do que em latitudes inferiores.
Isso se deve em parte à chamada amplificação polar — o derretimento do gelo e da neve, que são brancos, expõe áreas mais escuras de mar e terra, que absorvem mais calor, num círculo vicioso. A exposição constante à luz solar durante o verão nas altas latitudes também contribui para isso, disse Richter-Menge por telefone.
Normalmente, o ar frio fica “engarrafado” no Ártico durante o inverno, mas no final de 2009 e começo de 2010 ventos fortes empurraram esse frio do norte para o sul, em vez de seguirem o padrão habitual de oeste para leste, disse o oceanógrafo Jim Overland, da NOAA em Seattle.
Overland disse haver uma ligação direta disso com a redução do gelo marinho no Ártico e com o clima em latitudes temperadas, e sugeriu que o fenômeno deve se tornar mais comum nos próximos 50 anos.
Esse padrão ocorreu apenas três vezes nos últimos 160 anos, disse Overland a jornalistas.
“É meio que um paradoxo em que você tem um aquecimento global geral e aquecimento da atmosfera que na verdade criam mais dessas tempestades de inverno”, afirmou. “O aquecimento global não é só aquecimento em todo lugar … ele cria essas complexidades.”
Os pesquisadores disseram que Nuuk, capital da Groenlândia, teve seu ano mais quente em 138 anos de medições, e que quatro grandes geleiras perderam mais de 25 quilômetros quadrados cada uma.
(Agência Reuters, UOL Notícias, EcoDebate, 22/10/2010)