Governos e empresas precisam de uma reforma em suas políticas e estratégias para responder à rápida perda de riquezas naturais do mundo, equivalente a trilhões de dólares, informa um estudo apoiado pela ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado nesta semana.
Os danos à natureza, incluindo florestas, pantanais e pastos, estão avaliados entre US$ 2 trilhões e US$ 4,5 trilhões anuais, calcula a ONU, mas esse número não está incluído em dados econômicos como o PIB, nem nas contas empresariais.
Essa "invisibilidade" precisa mudar para que medidas possam ser tomadas no sentido de salvar ecossistemas que são fonte vital de comida, água e renda, afirmou Pavan Sukhdev, líder do instituto TEEB (A Economia dos Ecossistemas e Biodiversidade), uma iniciativa apoiada pela ONU.
"Não podemos tratar disso brandamente", disse o pesquisador em coletiva de imprensa durante um encontro da ONU em Nagoia, no Japão, onde representantes de quase 200 países tentam estabelecer metas até 2020 para combater perdas na diversidade biológica.
"Infelizmente, a falta de lentes econômicas para refletir essas realidades significou que temos tratado desses assuntos de forma branda. Eles não estão no centro das discussões de políticas nem no centro das discussões financeiras."
VALOR DA NATUREZA
Sukhdev falou sobre as impressões finais de vários relatórios do TEEB que analisam o valor da natureza, incluindo florestas que limpam o ar, abelhas que polinizam as colheitas e recifes de coral, que abrigam milhões de espécies.
Por exemplo, a diminuição pela metade das taxas de desmatamento até 2030 reduzirá prejuízos, causados pelas mudanças climáticas, de mais de US$ 3,7 trilhões. Já as colônias de abelhas suíças asseguram produção anual de US$ 213 milhões na agricultura, por meio da polinização, informou o relatório.
A destruição dos recifes de coral não está prejudicando apenas a vida marinha, mas também coloca em risco as comunidades, disse o relatório. Cerca de 30 milhões de pessoas dependem de fontes naturais dos recifes para produção de alimentos, obtenção de renda e sustento.
"Isso exacerbou o sofrimento de seres humanos, especialmente aqueles na base da pirâmide econômica", disse Sukhdev.
"O desenvolvimento e a biodiversidade não podem ser vistos como competidores. Eles não são apenas a mesma moeda, mas também o mesmo lado da mesma moeda."
O relatório destaca recomendações aos políticos, como a necessidade de incluir o valor da natureza e o papel dos ecossistemas nas contas nacionais. Além disso, enfatiza que as empresas devem divulgar valores em seus balanços anuais.
Economias emergentes, como o Brasil e a Índia, deram seu apoio ao relatório, dizendo que usariam as descobertas do TEEB como um guia.
"Em nível nacional, estamos em discussão para implementar o estudo do TEEB de nosso capital natural. O setor empresarial brasileiro também está planejando avançar nessa prática e rumo a uma abordagem sustentável para a tomada de decisões", afirmou em comunicado Bráulio Dias, secretário para biodiversidade e florestas do Ministério do Meio Ambiente do Brasil.
(Folha.com, 21/10/2010)