Pesquisa detalha o preço implícito do carbono na eletricidade de seis grandes economias e mostra que as empresas geradoras britânicas que utilizam combustíveis fósseis são as que mais pagam, seguidas, surpreendentemente, pelas chinesas
Uma maneira de avaliar os incentivos para o investimento em fontes renováveis de energia é analisar quanto cada país cobra, mesmo que de maneira indireta, das empresas para que elas gerem energia a partir de combustíveis fósseis. Foi isso que fez o Climate Institute em parceria com a Vivid Economics em uma pesquisa divulgada nesta semana que observou Reino Unido, China, Estados Unidos, Austrália, Coréia do Sul e Japão.
O Reino Unido ficou em primeiro lugar com um preço implícito de US$ 29,30 pela tonelada de dióxido de carbono (/t CO2e).
A classificação dos britânicos reflete o seu envolvimento no esquema europeu de comércio de emissões que tem pressionado a introdução de políticas de carbono mais eficientes do que em outros países que ainda não lançaram esquemas compulsórios para redução das emissões.
“Os investimentos em energias limpas no Reino Unido alcançaram cerca de US$ 11 bilhões em 2009. Mais de 900 mil pessoas trabalham hoje em virtude dos incentivos para a economia de baixo carbono e isso ajudou o país a escapar mais rapidamente da crise mundial”, comentou Erwin Jackson, vice-chefe executivo do Climate Institute.
Surpresa Chinesa
O gigante asiático, maior consumidor de energia elétrica do planeta, aparece na pesquisa em segundo lugar com US$ 14,20/t CO2e, quase três vezes mais que os Estados Unidos com US$ 5,01/t CO2e.
Esse custo para a geração de energia chama ainda mais atenção se consideramos a dependência chinesa do carvão e que o país é sempre encarado como uma máquina insaciável pelo crescimento a todo vapor.
“A verdade é que as políticas do país para atingir suas metas firmadas em acordos internacionais estão funcionando. Além disso, a China está cada vez mais consolidada como o principal receptor de investimentos em energia limpa do mundo e começa a ver vantagens em incentivar esse perfil”, explicou Jackson.
Em 2009, os investimentos em energias limpas na China alcançaram US$ 35 bilhões em comparação com US$ 18 bilhões nos Estados Unidos e menos de US$ 1 bilhão na Austrália.
Decepção Norte-americana
Segundo a pesquisa, o fato dos Estados Unidos aparecerem somente em terceiro lugar com apenas US$ 5,01/t CO2e apesar de todos os discursos do presidente Obama de incentivos para uma economia de baixo carbono refletem o fracasso da aprovação da lei climática e energética no congresso e o poder dos lobbies dos combustíveis fósseis no país.
O Climate Institute também aponta os grandes subsídios e créditos fiscais como fatores que diminuem drasticamente o preço implícito do carbono nos EUA. Apenas um dos subsídios, destinado para programas de aquecimento de residências de baixa renda, fornece mais de US$ 5 bilhões para as empresas geradoras.
O ranking dos outros países pesquisados ficou: Japão US$ 3,10/t CO2e, Austrália US$ 1,70/t CO2e e Coréia do Sul US$ 0,70/t CO2e.
A Austrália tem um esquema compulsório que estabelece uma meta de 20% de energias renováveis para 2020, enquanto o Japão e a Coréia do Sul estão trabalhando para a eventual introdução do comércio de emissões. Ambos já têm programas para promover investimentos em tecnologias limpas.
(Por Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil/Climate Institute, 19/10/2010)