Encravada no meio da maior floresta tropical do planeta, a cidade de Belém já não pode ser considerada uma metrópole verde. De toda a área continental da capital, restam apenas 15% da cobertura vegetal original. O resto está pintado de cinza pelas calçadas e de preto pelo asfalto. Sem ter pra onde crescer, a cidade avança em direção à última fronteira visível da urbanização - a Belém insular, que ainda conserva 67% de sua paisagem natural.
Os números são oriundos de um estudo inédito desenvolvido pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) sobre imagens em alta resolução captadas por satélite da capital paraense. Trata-se de um raio X preciso do nível de ocupação do território, que apresenta o resultado de anos de acelerada e desordenada urbanização.
Vista de cima, a Belém de hoje parece sufocar os terrenos onde a floresta natural resiste. O verde que resta está limitado a parques ambientais fechados, terrenos particulares e áreas militares com acesso restrito. O avanço da cidade, segundo o pesquisador do Goeldi que coordenou o estudo, pode dizimar em 10 anos os últimos redutos de floresta da capital.
Leandro Valle Ferreira, biólogo formado pela Universidade de Brasília que integra a Coordenação de Ciências da Terra e Ecologia do MPEG, construiu a pesquisa junto à bolsista de iniciação científica Surama Hanna Muñoz. Caso não haja intervenção do poder público, afirma Ferreira, 'as áreas de floresta isoladas no meio da cidade não terão mais a capacidade de conservar a biodiversidade de flora e fauna natural'. Significa que as espécies nativas que resistem nestes espaços podem desaparecer ainda na próxima década.
(Por Filipe Sanches, O Liberal, Amazônia.org, 17/10/2010)