Dilma Roussef e José Serra estrelaram no último domingo, dia 17 de outubro, a manchete de capa do jornal “O Estado de S. Paulo” falando de ambiente. Não por vontade própria. Mas por iniciativa do repórter Herton Escobar, que enviou às respectivas campanhas várias perguntas sobre o assunto. No debate realizado à noite na Rede TV, nem uma palavra. O quase silêncio que os dois candidatos à Presidência dedicaram até agora à questão ambiental foi registrado num cálculo feito pelo repórter Paulo Marqueiro, de “O Globo”.
O resultado que ele descobriu virou a manchete do matutino carioca no mesmo domingo em que Serra e Dilma apareceram no Estadão com suas ideias para tornar o Brasil mais verde e limpo. Somando daqui e subtraindo dali, Marqueiro viu que, dos 400 minutos de campanha que teve à sua disposição na TV durante o 1º turno, Dilma dedicou apenas 5 minutos desse total, ou 1, 25%, ao tema ambiental, onde o repórter também incluiu saneamento.
Serra, que dispôs de 280 minutos de propaganda eleitoral gratuita, falou apenas 2 minutos sobre o mesmo tema, 0,71% do total. No Estadão, ambos tiveram a chance de discorrer mais longamente sobre suas visões em relação ao ambiente. Mas tanto Dilma quanto Serra desperdiçaram a oportunidade. Dilma certamente acusaria seu adversário de estar tergiversando. Serra sem dúvida responderia que ela ficou só no trolóló. De certa forma, os dois teriam razão.
Sobre o futuro de nossas florestas, reforçaram o que os dois que são contra a anistia aos desmatadores e a redução da Reserva Legal e de áreas de preservação permanente (APPs), como margens de rios e encostas, previstas no relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB) que propõe a morte do nosso Código Florestal. São palavras que precisam ainda virar prática a partir de 1º de janeiro de 2011.
Serra propôs uma moratória no corte de árvores de cinco anos para todos os biomas para permitir a discussão sobre o que se fazer com zonas onde a agricultura está consolidada. Não ocorreu ao candidato defender uma política de desmatamento zero, que daria a ele todo o tempo do mundo para discutir essa questão e, ao mesmo tempo, protegeria para sempre o que nos resta de florestas.
Ele escreveu ao jornal que “é necessário inovar em relação à legislação” e disse que a seu ver “o setor produtivo aceita uma pausa para redefinir os marcos legais da relação entre a biodiversidade e o progresso no campo”. Em outras palavras, não assumiu posição contra o desmatamento. Dilma, do seu lado, também não. Prometeu avançar nos programas anti-desmatamento do governo Lula, sem fazer autocrítica sobre a maneira como estão funcionando, e perdeu a oportunidade de demonstrar avanços em políticas de preservação e de desenvolvimento sustentável.
Quando tentou ser específica, enrolou. “No Cerrado a situação é mais complexa”, disse, reiterando que é preciso “atuar na modernização e no uso sustentável do solo e adotar políticas para fazer uso de áreas degradadas para a expansão da agropecuária”. A candidata, no entanto, não explicou como pretende fazer nem uma coisa e nem a outra. E também, como Serra, passou ao largo das queimadas que há pouco mais de três meses queimam plantações e florestas em todo o território brasileiro, contribuindo para tornar nossa biodiversidade mais pobre, nosso ar mais poluído e o planeta mais quente.
Na questão energética, os dois também não se diferenciaram um do outro. A não ser nas palavras. Serra disse o óbvio, que fontes renováveis são melhores que os combustíveis fósseis para gerar energia. Mas não mencionou investimentos em fontes solar ou eólica. Preferiu lembrar o potencial de geração hidráulica da Amazônia – uma recordação que invariavelmente remete a megahidrelétricas e impactos imensos na floresta e nas pessoas que lá vivem. Falando em grandes obras, lavou as mãos em relação à usina de Belo Monte, dizendo que agora resta apenas fazer seus construtores cumprirem as determinações legais.
(Greenpeace Brasil, 19/10/2010)