Seja quem for o vencedor do segundo turno das eleições presidenciais, o Partido Verde (PV) vai exigir do eleito a suspensão do Programa Nuclear Brasileiro e as obras da usina de Angra 3, orçada em R$ 9 bilhões, cujo reinício foi autorizado em maio passado pelo governo de Lula.
A posição contrária ao programa nuclear foi manifestada ontem ao DCI pelo líder do partido na Câmara dos Deputados, Edson Duarte (BA) , candidato derrotado a senador. Em contrapartida, procurados pelo jornal, os presidenciáveis José Serra (PSDB) e Dilma Roussef (PT) não se comprometeram em atender o pleito do PV, mas querem dar prioridade a fontes renováveis de energia, a exemplo das hidroelétricas.
"Defendemos que o governo aprove a Política Nacional de Energias Renováveis que está pronta para ser votada na Câmara, em plenário", aconselhou o líder, que criticou o fato de, após 35 anos, o governo ter retirado da gaveta, em maio passado, o projeto da usina nuclear de Angra 3. O projeto foi concebido em 1977, na época do regime militar.
Segundo o líder do PV, em vez de preferir investir em fontes renováveis, o governo optou pelo "antigo modelo". Desde então, o partido denuncia o que chama de "tecnologia ultrapassada", a ser utilizada na usina com sérias ameaças ambientais.
Para o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, dentro de alguns anos, depois da retomada da construção de Angra 3, o Brasil ainda vai construir usinas nucleares com tecnologia própria. "A ideia é começar com usinas de grande porte, aliando a tecnologia nacional à de parceiros estrangeiros. A partir da terceira ou da quarta usina, queremos usar apenas tecnologia brasileira", disse, de acordo com a assessoria. Segundo Rezende, não faltarão recursos para o desenvolvimento do setor nos próximos anos.
Rejeitos tóxicos
O Partido Verde incluiu a questão da geração de energia entre os pontos da plataforma mínima que vai cobrar dos candidatos à Presidência da República. Isso envolve tanto a construção da usina de Angra 3 quanto o atual Programa Nuclear Brasileiro.
"O País vai pagar muito por uma tecnologia ultrapassada, que gera rejeitos tóxicos para os quais ainda não se encontrou uma solução", detalhou Duarte, a respeito de Angra 3 - "a qual inicialmente ganhará investimentos da ordem de R$ 7 bilhões, mas o valor atualmente ultrapassa R$ 9 bilhões", completou.
Para o líder verde, nesse período eleitoral o governo federal "amaciou em alguns temas polêmicos" - dentre os quais, citou a questão das usinas nucleares. Conforme o político, com o passar dos anos, o tema ganhou forte apelo popular. Antigamente, explica Duarte, não havia qualquer debate a respeito, mas agora a sociedade interessa-se pelos "grandes temas da nação"
Dilma afirmou que lida com energia desde sua participação como secretária de Minas e Energia no Rio Grande do Sul e, mais tarde, como ministra de Minas e Energia do primeiro governo do presidente Lula.
Segundo Dilma, a política de geração de energia elétrica no Brasil deve sempre prezar modicidade tarifária, segurança do abastecimento e uma matriz energética renovável: "Quanto à energia nuclear, o que posso dizer é que a usina de Angra, por exemplo, é importante para a manutenção do conhecimento acumulado sobre energia nuclear, que deve ser transmitido às futuras gerações do País".
Essa fonte, de acordo com a petista, foi responsável por 2,5% de toda geração de energia em 2009. "Não é prioritária, mas trata-se de uma importante fonte energética, cujo conhecimento acumulado o Brasil não deve e não pode perder", defendeu.
Serra, por sua vez, afirmou não ser contra ter usinas nucleares no Brasil. Disse, porém, acreditar que elas tenham papel fundamental - não agora, mas a médio e longo prazo. O fundamental para a energia nesse momento, segundo o tucano, é saber utilizar os recursos hídricos.
"Nós temos cem projetos que ficaram paralisados, que não andaram nessa matéria. Aliás, área do Ministério de Minas e Energia, também na época, em grande parte da época, cuja chefia cabia a Dilma", alfinetou.
"Eu creio que a energia de origem hidroelétrica é prioritária: a energia eólica, assim como a energia solar, que tem um potencial muito grande na Região Nordeste". O candidato crê que há muitas frentes energéticas mais prioritárias do que a nuclear para explorar no País. "Não sou, em princípio, contra um país, mesmo o Brasil, ter energia nuclear em um momento em que isto venha a ser necessário", pontuou o candidato.
(Por Abnor Gondim, DCI, 18/10/2010)