Ansioso por impedir o colapso da pesca marinha, o Ministério de Agricultura e Pesca da Jamaica promove o consumo do peixe-leão para controlar sua crescente população. Segundo as autoridades, estão em risco a biodiversidade marinha, a segurança alimentar e o bem-estar econômico da nação. “A situação na Jamaica é urgente”, disse Nelsa English, coordenadora nacional do componente jamaicano de um Projeto de Espécies Invasoras no Caribe na Agência Nacional de Meio Ambiente e Planejamento (Nepa).
“A falta de predadores naturais suficientes sugere que esse peixe pode ser uma ameaça potencialmente significativa para a biodiversidade jamaicana e o ecossistema em geral”, acrescentou Nelsa. Os recursos do país estão chegando a um ponto sem volta. Seus arrecifes sofrem pesca excessiva e degradação devido a práticas pesqueiras pouco amigáveis com o meio ambiente, como uso de explosivos, venenos e redes com tamanho inferior ao permitido por lei.
Os cientistas coincidem em que muitos dos arrecifes estão reduzidos a apenas comunidades coralinas e já não funcionam como ecossistemas vitais porque sua biodiversidade está severamente degradada. Alguns estudos sugerem que apenas 2% de alguns arrecifes são corais vivos e que as estruturas próprias sofrem erosão mais rapidamente do que podem se regenerar. “Atualmente, nossa indústria pesqueira sobrevive da captura de adultos jovens. Esta prática não permite que uma quantidade suficiente de peixes amadureça e se reproduza, o que pressiona a fecundidade do ecossistema”, disse Nelsa à IPS.
Para ela, a presença do peixe-leão (cujas cores vão do laranja até o grená) em um área marinha tão esgotada pode aniquilar a indústria da pesca. O Ministério de Agricultura e Pesca estima que são mais de 30 mil pescadores na ilha. O peixe-leão (Pterois volitans e Pterois miles) foi visto pela primeira vez em águas jamaicanas em 2008, e se propagou rapidamente por toda a ilha. Os especialistas afirmam que pode ser reduzida em até 80% a proporção de sobrevivência dos pequenos peixes dos arrecifes.
São poucos os predadores para esta espécie nativa do Pacífico além dos meros, dos quais não restam muitos nestas águas onde é praticada a pesca excessiva. O Parque Marinho de Montego Bay, reserva e santuário de peixes na costa norte da ilha, está sacrificando o peixe-leão para reduzir sua quantidade. “Durante os estudos submarinos era normal encontrar pelo menos três exemplares dessa espécie em uma jornada de mergulho. Nas horas do anoitecer e amanhecer, este número podia facilmente triplicar ou quadruplicar”, disse Brian Zane, diretor-executivo do Parque.
Os sacrifícios acontecem em associação com a Divisão de Pesca do Ministério da Agricultura e a Nepa. Os funcionários examinam a viabilidade de instalar uma estrutura de arrecifes que se ramifiquem – já que não são habitáveis pelo peixe-leão – no Parque Nacional. A Nepa e seus sócios elaboraram uma Estratégia Nacional e um Plano de Ação para as espécies exóticas invasoras. O ministro de Agricultura e Pesca, Christopher Tufton, lidera uma agressiva campanha de educação pública para conseguir que os jamaicanos comam peixe-leão.
É habitual ver programas de televisão, vídeos de figuras conhecidas, como o primeiro-ministro Bruce Golding, saboreando pratos elaborados com essa variedade de pescado, e alguns dos chefes mais prestigiados preparam o que Christopher descreve como "boa comida". "Creio que a maneira de controlar o peixe-leão é promover seu consumo", disse no início da campanha. A Jamaica tem uma das maiores quantidades de espécies endêmicas do Caribe, e também uma das maiores de espécies invasoras: 102.
Isto a situa atrás de Porto Rico e da República Dominicana, ilhas que também lutam contra o peixe-leão. No ano passado, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos patrocinou uma viagem de cinco dias por Porto Rico com célebres cozinheiros, como parte de seus esforços para comercializar esta espécie. Em outras partes, pescadores que se arriscam são recompensados, como nas Bahamas, este peixe é vendido por US$ 24 o quilo, até três vezes mais que outras variedades. Nas Ilhas Turcas e Caicos, o governo oferece um prêmio de US$ 3mil para o primeiro pescador que capturar três mil exemplares de peixe-leão.
O fato de este peixe se adaptar aos mangues e aos pastos marinhos que servem de santuário para os peixes dos arrecifes, dificultará sua erradicação, segundo os cientistas. Já foram vistos na Bogue Lagoon, principal área de mangue dentro do Parque Nacional de Montego Bay. Como são vários países afetados, os governos trabalham juntos para chegar a una solução comum para o problema.
O Fundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), financia um plano de mitigação da ameaça das espécies exóticas invasoras no projeto Insular Caribenho, para ajudar os cientistas da região a elaborar estratégias a respeito. O programa quadrienal tem o objetivo de desenvolver um sistema de alerta, resposta e controle dessas espécies invasoras, bem como sistemas para impedir sua introdução em cinco países e uma praga de peixe-leão na Jamaica, República Dominicana e Bahamas.
Segundo Brian, a resposta mais viável no curto prazo é sacrificar estes peixes. Também exigiu uma imediata proibição das capturas de populações predadoras, como o mero Goliat e o mero de Nassau, e a proteção dos corais ramificados. Estima-se que, em todo o mundo, o impacto, a prevenção e o controle de espécies invasoras custam US$ 100 bilhões, e que o dano que causam equivale a US$ 1,4 trilhão, ou cerca de 5% do produto interno bruto mundial. Envolverde/IPS
(Por Zadie Neufville, IPS, Envolverde, 15/10/2010)