Alvos de predadores e da ação do homem, filhotes de gambá recebem atendimento de veterinários e uma nova chance de voltar à natureza graças ao trabalho voluntário feito na Clínica Veterinária Toca dos Bichos, na Capital. O local abriga no momento 42 órfãos, de poucas semanas até dois meses, que foram acolhidos de diferentes pontos de Porto Alegre e da Região Metropolitana. O grupo de animais silvestres ganha alimentação e cuidados especiais até se desenvolver e poder retornar ao seu habitat natural.
— Usamos bolsas de água quente e incubadoras com temperatura controlada, de cerca de 25°C, para ficar o mais próximo possível das condições da bolsa da fêmea. Também damos aos filhotes mamadeiras ou sondas com leite integral, ovos, creme de leite, requeijão e farinha láctea. Mais tarde, conforme vão crescendo, recebem frutas, carnes e ovos — explica a veterinária Letícia Kunzler Gil, 29 anos, que faz parte da equipe da Toca dos Bichos há 10 anos e realiza a tarefa em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) e Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam).
Segundo ela, os filhotes ficam, em média, três meses no centro de triagem. Após uma série de exames e supervisão do Ibama, eles são recolocados em áreas arborizadas na zona rural. Letícia lamenta o grande número de ataques a gambás por "falta de orientação e conhecimento":
— Com o avanço da zona urbana, estamos usando o ambiente que é desses animais de vida livre. Eles têm de buscar locais para se alimentar, acabam fazendo isso dentro de propriedades e são mortos. Os gambás não são agressivos e fogem na nossa presença. Eles liberam urina com cheiro forte, principalmente, o macho como um mecanismo de defesa. O cheiro pode levar dias para sair do nosso corpo, mas não é prejudicial — conta ela.
A veterinária alerta para a importância dos animais no ecossistema. Como são onívoros, ou seja, se alimentam de produtos de origem animal e vegetal, são disseminadores de sementes de frutas. Além disso, a morte de gambás prejudica o equilíbrio da cadeia alimentar já que eles são presas de grandes carnívoros.
Os gambás não são os únicos hóspedes da clínica veterinária, que também cuida de exemplares como gavião, papagaio, caturrita, tucano, gato-maracajá, bugio, sagui, jabuti, entre outros.
— Queremos conscientizar as pessoas para não agredirem os animais. Por mais que a gente cuide bem de cada um deles, nada é igual à criação da mãe — lembra a veterinária, que se sente gratificada em fazer parte do time de cinco veterinárias responsáveis pelos bichos.
— Fazemos por amor e não tem o que pague isso. A gente faz o possível para não se apegar. É preciso ter cuidado porque esses animais nunca podem perder o medo do ser humano já que nem todos nós somos confiáveis — explica.
Serviço
Quem encontrar animais silvestres precisando de cuidados pode levar até a Toca dos Bichos, que fica na Rua Marechal José Inácio da Silva, número 404, no bairro IAPI, na Capital. Informações pelo telefone: (51) 3341-7664 ou pelo site.
(Zero Hora, 17/10/2010)