Encravadas no meio da Floresta Amazônica e inseridas na maior bacia hidrográfica do mundo, as obras das usinas de Jirau e Santo Antônio, duas das mais importantes hidrelétricas do país, estão a todo vapor. No entanto, não é somente o ritmo dos tratores, dos guindastes e dos operários que está acelerado na região do Rio Madeira, em Rondônia. Com a construção dos dois projetos que irão fornecer 6.600 megawatts ao país, o desenvolvimento da capital Porto Velho também caminha a passos largos. A chegada das duas megaconstruções ao estado atraiu negócios de vulto, alavancando empregos, renda e oportunidades.
O resultado imediato é a geração das milhares de vagas, fato que colocou Porto Velho no primeiro lugar entre as cidades que mais tiveram novos postos ocupados em 2009, conforme ranking elaborado pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), seguindo uma relação proporcional ao número de habitantes. O levantamento teve por base os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged): uma vaga foi criada para cada 20 rondonenses, totalizando 20.267 novas carteiras assinadas no último ano.
Em obras que trazem grandes impactos socioambientais, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) exige compensações para as comunidades atingidas. No total, os consórcios Energia Sustentável do Brasil e Santo Antônio Energia, responsáveis pelas duas obras, injetarão quase R$ 2 bilhões em programas sociais e ambientais na região. “No último ano, tivemos R$ 14 milhões previstos no orçamento para realizar investimentos em Porto Velho. Porém, só os royalties a serem gerados deverão atingir R$ 45 milhões por ano, que serão aplicados em benfeitorias na cidade”, calcula o vice-prefeito de Porto Velho, Emerson Castro.
Efeitos colaterais
O setor imobiliário comemora a fase de expansão do estado. Na avaliação do presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Cresci) de Rondônia, Flaézio Lima, o segmento cresceu 40% nos últimos dois anos. “A valorização de imóveis atingiu 100% nesse período”, calcula. “Há gente que diz que Porto Velho será uma das capitais mais importantes da região por sua localização geográfica. Eu acredito nisso”, afirma, referindo-se à futura rodovia Transoceânica, que ligará o Rio Branco, no Acre, ao Peru e, consequentemente, ao Oceano Pacífico.
Mas nem tudo é comemoração. Com o aumento do fluxo de pessoas que migraram para a capital, as deficiências dos serviços públicos se escancaram. Em 2008, a cidade tinha uma população estimada em 378 mil pessoas. Até o fim do ano, esse número deve chegar a 420 mil. Com isso, já é comum encontrar hospitais superlotados e falta de moradia para quem chega à região. O aumento da demanda trouxe também elevação substancial dos preços de produtos básicos, como alimentação e serviços.
Outra preocupação que paira no ar de Porto Velho é o que fazer com a mão de obra que ficará na cidade depois da conclusão das usinas. Com indústrias locais de pouca expressão e nenhuma atividade com capacidade de absorção do exército de trabalhadores formado nos últimos dois anos, o medo da avalanche de desemprego assusta os moradores a longo prazo.
O repórter viajou a convite das concessionárias
(Por Fernando Braga, Correio Braziliense, 17/10/2010)