O brasileiro não acha que precisa da natureza para viver. Foi o que mostrou pesquisa da organização não-governamental WWF-Brasil, que, durante todo o mês passado, apresentou à população a pergunta “O que você precisa pra viver?”. Amor, amigos, sol, saúde e família foram as principais respostas obtidas. Quase ninguém se lembrou do verde.
Para mudar este cenário, na semana passada a ONG lançou a campanha “Cuidar da natureza é cuidar da vida”, em que, entre outras ações, propõe a criação de 10 novas unidades de conservação no país, de forma a cumprir as metas de cobertura natural protegida estabelecidas pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) da Organização das Nações Unidas, alcançando um índice de desmatamento zero até 2015. Reportagem em O Globo.
Proteção para 10% dos biomas
Denise Hamú, secretária-geral do WWF, justifica a campanha: – O Brasil tem tanta abundância aparente de recursos naturais que achamos que eles vão durar para sempre. Esquecemos que, para viver, também precisamos que a natureza esteja bem viva – afirma. – Nossa campanha não tem a pretensão de esgotar o tema, mas provocar discussão e reflexão sobre o assunto. O Brasil ainda enfrenta muitos desafios em questões como o desmatamento e áreas de preservação.
Dentro da CDB, o Brasil se comprometeu em proteger 10% da área original de cada um dos principais biomas do país, como a Mata Atlântica, o Cerrado e o Pantanal, proporção que aumenta para 30% no caso da Amazônia.
Como forma de alcançar rapidamente estas marcas, o WWF-Brasil sugere o estabelecimento de unidades de conservação tendo como foco locais como a Reserva Extrativista Baixo Rio Branco-Jauaperi (Amazonas), o Parque Nacional dos Lavrados (Roraima), o Parque Nacional Chapada dos Veadeiros (Goiás), o Parque Nacional Boqueirão da Onça (Bahia), o Cerrado do Amapá, o Tabuleiro do Embaubal (Pará), no Crôa e Jurupari (Acre), no extremo sudoeste do Pantanal e em Bertioga, São Paulo.
Segundo a WWF-Brasil, atualmente, somadas todas as unidades do país, ainda faltam proteger aproximadamente 2,5% da área terrestre e 8,5% da área marinha do Brasil para que as metas sejam alcançadas.
- Estamos trabalhando em conjunto com os governos em vários programas.
Estas áreas sugeridas cobrem vários estados do país e foram escolhidas com base em estudos de informações sobre sua biodiversidade e relevância do ponto de vista ecológico – explica Denise. – Isso, no entanto, não quer dizer que outras áreas não mereçam estar na lista.
O preço de ar puro, praias e água doce
Um dos exemplos da dificuldade de encontrar tais áreas é justamente o da Mata Atlântica, conta Denise.
Ela lembra que restam apenas 7% da cobertura original do bioma no país, o que faz da unidade de Bertioga uma das maiores prioridades do grupo.
- A unidade de Bertioga faz conexão com o Parque Estadual da Serra do Mar e está em uma área de pressão no litoral paulista. São remanescentes fundamentais da Mata Atlântica que enfrentam pressões enormes de ocupação humana, especulação imobiliária e exploração – diz Denise. – É preciso fazer as pessoas perceberem que o que elas têm, como ar puro, praias próprias para banho, estoques pesqueiros, não vêm de graça. Não queremos dar um tom alarmista à questão, mas temos que passar a fazer escolhas mais inteligentes – conclui.
(EcoDebate, 15/10/2010)