Segundo uma nova pesquisa, o local onde as águas profundas e frias do oceano se misturam com as águas quentes da superfície – esse encontro das águas quentes e frias é chamado de termoclina – está ficando mais raso devido à mudança climática.
Esse estudo é a primeira evidência física que apóia modelos climáticos que previam efeitos da mudança climática global sobre a circulação do oceano nas águas da superfície.
Os cientistas têm pouco conhecimento das águas mais profundas do oceano, pois os dados de satélites e as medições físicas são principalmente restritos a sua superfície. Para estudar essa mistura subaquática, os pesquisadores usaram uma forma de coral, macia e flexível, que cresce em um recife ao largo da ilha de Palau, no oeste do Oceano Pacífico, como medidor da temperatura da água do oceano.
Já que esses corais moles não estão restritos a águas quentes ou pouco profundas, como outros corais tropicais, eles dão a oportunidade de reconstruir uma imagem da circulação do oceano nas profundidades.
Desde meados da década de 1970, a profundidade média da termoclina está ficando mais rasa. Esse deslocamento pode ser em parte devido a uma mudança em um fenômeno semelhante ao El Niño, denominado Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). A mudança da termoclina na década de 1970 coincide com uma mudança na ODP de uma fase negativa para uma fase positiva.
Durante uma fase positiva, ou quente, as águas superficiais do Pacífico Oeste ficam frias e parte do leste do oceano aquece. Os cientistas acreditam que a termoclina aumentou quando passou a ODP, que foi um efeito cumulativo de tanto a variabilidade natural da ODP quanto do aquecimento da temperatura global.
Embora as alterações do El Niño ocorram em um período de anos, as mudanças da ODP ocorrem ao longo de décadas. Os modelos climáticos já previam que, como resposta ao aquecimento global, o padrão atmosférico no Pacífico tropical enfraqueceria, e se isso acontecesse, seria de esperar que a termoclina ficasse mais rasa. Os dados da pesquisa apóiam esses modelos.
Os corais moles foram usados para determinar como a termoclina subiu e desceu ao longo do tempo. Os anéis de crescimento dos corais, como os anéis das árvores, por exemplo, contêm diferentes níveis de isótopos de nitrogênio – perto da superfície, a água tem uma maior proporção de nitrogênio -, e isso foi o que permitiu aos cientistas revelar o deslocamento da termoclina. A análise sugeriu um deslocamento da termoclina em direção à superfície.
Agora, os pesquisadores querem repetir o estudo com amostras de corais em outras localidades, para confirmar suas desconfianças de que o deslocamento da termoclina não é um fenômeno regional, mas sim que ocorre em toda a bacia oceânica.
(LiveScience, 14/10/2010)