O aguardado edital de montagem eletromecânica da usina nuclear Angra 3, que abrirá a disputa de empresas nacionais por contratos de R$ 1,5 bilhão, vai levar mais tempo do que o previsto para ser publicado. Marcada inicialmente para a segunda quinzena de setembro, a publicação agora é esperada para o fim de outubro ou início de novembro. A Eletronuclear alega, para isso, estar sobrecarregada com um alto volume de trabalho na área de contratação.
A companhia garante que não haverá novos adiamentos. “Não temos motivação nenhuma para postergar. O motivo foi o alto volume de trabalho que estamos tendo com processos licitatórios para a contratação de serviços de engenharia e suporte técnico”, diz o superintendente de gerenciamento de empreendimentos da Eletronuclear, Luiz Messias. “E ainda estamos renegociando contratos com fornecedores nacionais e internacionais”, complementou.
Ele adiantou que o edital, que está “praticamente pronto”, prevê a contratação de dois pacotes. “Teremos um único processo licitatório para duas contratações (um pacote associado à parte nuclear e outro associado à parte convencional da planta)”, explicou. Segundo ele, as empresas ou consórcios poderão apresentar ofertas para os dois pacotes. O edital deverá prever que quem ganhar um não poderá ser contratado para o outro.
Messias afirma que a postergação da publicação do edital não vai atrasar o cronograma das obras. “Após a publicação do edital, teremos capacidade de concluir o processo licitatório em cerca de quatro meses. Depois de concluído, o processo deve passar por aprovação interna. Até maio de 2011 tudo deve estar sacramentado”, diz. A mobilização do contratado para a montagem deve começar em meados de 2011. A previsão é de que Angra 3 entre operação no fim de 2015.
Os serviços de montagem eletromecânica devem empregar 4 mil funcionários em Angra 3. As obras civis, já em andamento, estão sendo tocadas por mais de 1.800 empregados. Estima-se que, somente para atender aos serviços de construção civil, seja necessário um efetivo de 2.500 trabalhadores, podendo chegar a 4 mil nos momentos de pico, entre o segundo e o terceiro ano.
Na avaliação de Messias, não faltarão empresas nacionais com expertise para participar da concorrência, restrita a companhias brasileiras. “Todas essas grandes empresas têm bagagem. Houve um grupo de sete envolvidas na montagem de Angra 2, que obtiveram experiência”, disse ao citar empresas como Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Odebrecht e EBSE. “Essas empresas trabalham com a Petrobras e outros empreendimentos com algum grau de sofisticação”, declarou Messias.
Antes da publicação do edital, porém, a Eletronuclear espera se livrar da carga excessiva de trabalho, especialmente na renegociação de contratos, muitos deles firmados ainda nos anos 1980, processo que Messias qualificou como “uma briga grande”. “O sujeito acha que, como tinha o contrato no passado, tem todo o direito de cobrar o valor que entende, mas nós temos as nossas referências, de preço no exterior”, afirmou.
Embora tenha dito que todas as negociações foram bem-sucedidas até agora, Messias afirmou que houve casos extremos, em que o processo só foi resolvido depois da ameaça de rescindir o contrato e partir para a importação. “Às vezes, o preço estava muito acima do importado com imposto”, conta. Segundo ele, até agora foram renegociados contratos de cerca de R$ 300 milhões, o que representa de 65% a 70% dos contratos que devem passar por esse processo.
(JC-RS, 14/10/2010)