O desenvolvimento sustentável deve oferecer vastas oportunidades de negócios durante as próximas décadas, avaliados em US$ 6,2 trilhões. A conclusão é do relatório liderado por Alcoa, PwC, Storebrand e Syngenta. O assunto levou ao surgimento de uma organização sem fins lucrativos na área do empreendedorismo social: a Net Impact. Em Porto Alegre, a entidade é representada por um grupo de jovens empreendedores que oferece consultorias em gestão para entidades da sociedade civil e realiza eventos educativos.
O trabalho da Net Impact pode ser conhecido até esta quinta-feira. Em parceria com a Amcham, a ONG promove o Start - Seminário de Sustentabilidade. A ideia, segundo Felipe Amaral - responsável pela área de educação - é discutir se o assunto ainda é uma obrigação moral ou uma oportunidade de negócio. O evento, que ocorre no Salão Imperatriz, Clube Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre, se inicia com a palestra do fundador do Comitê para Democratização da Informática (CDI), Rodrigo Baggio, e conta com as presenças da diretora de negócios sociais da Coca-Cola Brasil, Claudia Lorenzo, o sócio-gerente da Núcleo Ético, Cid Alledi, o jornalista Dal Marcondes e ainda, Jorge Soto, diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem.
JC Contabilidade - Qual o custo real de uma organização sustentável?
Felipe Amaral - Eu inverteria a pergunta, propondo pensar sobre o quanto custa não ser sustentável. Eu acho que esta é que é a questão, porque não ser sustentável hoje talvez não seja um problema. Mas pensando em longo prazo, possivelmente será um problema. O que as empresas vêm fazendo é de acordo com a demanda de mercado. Se o mercado cobra, o governo cobra, a sociedade cobra que as empresas sejam sustentáveis, elas vão ter de se adequar a este novo papel. E não é fácil fazer isto. Passa por uma mudança de cultura e de valores muito grandes também, pois as empresas sempre pensavam simplesmente na questão econômica e, de repente, elas têm que pensar no social e ambiental. Isto tem um custo para a empresa, que são os investimentos para mudar este cenário.
Contabilidade - O custo de não ser sustentável é mensurável?
Amaral - O governo começa a regularizar este tipo de questões. Por exemplo, no setor ambiental. Antigamente, não se tinha nada de cobranças em relação ao isso. A empresa poderia jogar o químico dela em um rio e não acontecia nada. Hoje em dia já não é mais assim. A empresa que faz isto recebe uma autuação e tem que pagar multa. Então ela corre o risco de ter que fechar realmente as portas se estiver causando um mal muito grande.
Contabilidade - De que forma estão envolvidos aspectos contábeis nas áreas de atuação da Net Impact (consultoria e educação)?
Amaral - Nossa missão é formar líderes para o desenvolvimento sustentável, e esta formação passa por qualquer área de trabalho. Então, as consultorias que a gente presta para organizações sociais são consultorias de gestão de negócios, que passam pela parte marketing, pela parte financeira, pela parte contábil. O que nós estamos fazendo é potencializando estes profissionais de qualquer área ou estudantes que vão se tornar profissionais em breve, para incorporarem questões de sustentabilidade, independentemente da área em que atue. A nossa proposta não é que todo mundo vá atuar na área de sustentabilidade das empresas, e sim, que todas as áreas incorporem este conceito. A gente precisa que a parte financeira trabalhe isso, a parte contábil, até ele começar a se expandir. Além disso, tem questões de ética, por exemplo.
Contabilidade - O que mais um contador pode fazer para colaborar com o tema?
Amaral - Eu acho que a primeira questão básica é ser transparente. A pessoa que trabalha com contabilidade dentro de uma empresa tem uma responsabilidade muito grande. Entre outras atividades, eles trabalham com os números da empresa, e estes números cada vez mais precisam ser transparentes. Um exemplo que temos na Net Impact é que a gente está começando e tudo que temos feito, deve ser o máximo de transparente, como a prestação de contas, por exemplo. É isto que acontece nas empresas que têm capital na bolsa. Acredito que a sociedade vai cobrar isto, cada dia mais. O governo vai cobrar e as empresas vão ter de se adequar a estas mudanças.
Contabilidade - Estas novas ferramentas que dão suporte para a gestão contábil propiciam e facilitam o surgimento de novos empreendimentos sociais?
Amaral - Eu acho que sim. Quanto menos burocrático se tornar este processo, mais autonomia se tem. De repente, se tiver muitas pessoas trabalhando em cima dos números e isto já vem automático. Por outro lado, facilita a deixar este processo mais transparente, porque tu tens uma tecnologia que te dá o resultado. Tu colocas em um software, te dá o resultado, isto é uma situação. Agora, entre 20 pessoas trabalhando em um processo, o risco de ter um erro ou má intenção no processo é maior.
Contabilidade - Há duas opiniões claras quando se fala de sustentabilidade. Há quem associe ao discurso ambientalista, e quem pense em gestão de inovação, com uso de tecnologia de ponta. O que está sendo mais praticado pelas empresas?
Amaral - Te respondo com a pergunta que nós pretendemos responder durante o seminário. Levantar a questão de sustentabilidade é uma obrigação moral ou uma oportunidade de negócio? É importante pensar se as empresas fazem isto porque realmente são éticas e entendem que elas têm que contribuir ou se é uma oportunidade de crescer. Eu acho que a resposta é a junção destas duas questões. A empresa que trabalha com a sustentabilidade e com estes conceitos faz porque enxerga que, no futuro, isto vai ter valor.
(JC-RS, 13/10/2010)