A Casa Branca bloqueou as tentativas feitas por cientistas norte-americanos de levar a público informações sobre o vazamento de óleo no golfo do México pela empresa petrolífera BP (British Petroleum).
A afirmação consta em levantamento realizado pela comissão formada a pedido do presidente Barack Obama para investigar o pior acidente ambiental dos Estados Unidos, divulgado nesta semana.
Segundo relatório da comissão, entre abril e maio --o vazamento ocorreu em 20 de abril--, o Escritório de Administração e Orçamento da Casa Branca negou pedido da agência oceanográfica e atmosférica Noaa (na sigla em inglês, National Oceanic and Atmospheric Administration) de tornar público o cenário catastrófico provocado pela explosão na plataforma Deepwater Horizon.
Em entrevista à agência de notícias AFP, o chefe do subcomitê de Ciência da Casa Branca, Jerry Miller, disse não acreditar que houve censura do Escritório à Noaa. "Duvido que alguém pudesse impor restrições à habilidade da Noaa em articular informações factuais", comentou.
A BP estimou o vazamento em 6,8 milhões de galões por dia. Em abril, a Noaa e a Guarda Costeira atualizaram a estimativa entre 2,7 milhões a 4,6 milhões de galões diários.
Já o governo disse que eram 210 mil galões --o número foi ajustado posteriormente para cima. O relatório indica que o governo estava muito otimista com a habilidade da BP em administrar o acidente e bloqueou as projeções iniciais de vazamento. Se divulgadas, medidas emergenciais seriam colocadas em prática mais rapidamente.
"Apesar de o Comando Unificado ter essas informações e tomá-las como base para suas operações, afirmando que estava agindo sob o pior cenário, o governo nunca divulgou qual era esse cenário", indica o relatório da comissão de investigação.
O oceanógrafo David Hollander, da Universidade do Sul da Flórida, disse estar surpreso com a mordaça imposta à Noaa. Ele comentou que a divulgação pública sobre o acidente poderia ter ajudado os cientistas a descobrirem o que estava acontecendo em tempo real.
O vazamento que ocorreu nas águas do golfo do México matou 11 trabalhadores da plataforma da BP, liberou 206 milhões de galões de óleo e causou prejuízos da ordem de US$ 11,2 bilhões.
(Folha.com, 07/10/2010)