A traça que come o milho não sobrevive nas plantações transgénicas dos Estados Unidos, mas são os agricultores que plantam a variedade natural desta planta que mais beneficiaram a nível económico com a introdução dos transgénicos. A descoberta é publicada num artigo da edição desta semana da revista Science.
A equipa de cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison e da Universidade de Minnesota estudou o impacto económico devido à plantação do milho Bt – que contém um gene da bactéria < capaz de matar pestes como a traça Ostrinia nubilalis, chamada broca-do-milho. Nos Estados Unidos, esta variedade transgénica de milho é plantada em 63 por cento dos cultivos.
Entre 1996 e 2009, a região que atravessa os estados do Wisconsin, Minnesota, Illinois, Iowa e Nebrasca, fez um lucro de 4,96 mil milhões de euros. Mas 62 por cento deste lucro, 3,09 mil milhões de euros, foi para os agricultores com plantações de milho não transgénicas.
“Este é o primeiro estudo que estima o valor da supressão de pestes numa grande área devido ao cultivo de transgénicos e o seu benefício subsequente em plantações de não transgénicos. Neste caso, o valor dos benefícios do rendimento indirecto para as plantações de não transgénicos é superior aos benefícios directos das plantações com milho Bt”, disse em comunicado Paul Mitchell, da Universidade de Wisconsin-Madison, que fez a análise económica e é um dos autores do artigo.
O milho transgénico mata as larvas das borboletas depois de um a dois dias que estas eclodem dos ovos e começam a alimentar-se da planta. Esta mortalidade faz com que nas gerações seguintes os números de borboletas sejam menores e ataquem menos tanto as variedades genéticas como as não genéticas.
Nos últimos 45 anos, os entomologistas têm monitorizado nos Estados Unidos pestes como a broca-do-milho. Consoante a abundância de pestes de cada zona e a plantação de milho geneticamente modificado, as plantações não transgénicas viram o número da traça a diminuir entre 28 e 73 por cento. Por outro lado, estes agricultores não gastam tanto nas sementes como os que plantam milho transgénico.
Os autores acrescentam que esta análise não tem em conta os benefícios noutras culturas que também são afectadas por estas pestes, como o milho doce, as batatas e o feijão-verde. “Adicionalmente, existem benefícios ambientais da utilização destes transgénicos como a utilização de menos insecticida, mas esses benefícios têm que ser documentados”, disse William Hutchison, da Universidade de Minnesota, e líder do estudo.
(Publico.pt, 07/10/2010)