O calor extremo deste ano está colocando os recifes de coral sob um estresse tão severo que os cientistas temem um declínio generalizado, ameaçando não só os ecossistemas mais ricos do oceano como também estoques pesqueiros que alimentam milhões de pessoas.
Da Tailândia ao Texas, os corais reagem ao calor perdendo a cor e entrando em modo de sobrevivência.
Muitos já morreram, e muitos outros devem ter esse destino nos próximos meses. Previsões informatizadas sugerem que os corais do Caribe podem passar por um drástico branqueamento nas próximas semanas. Reportagem de Justin Gillis, The New York Times.
[Leia na íntegra]O que está acontecendo neste ano é apenas o segundo branqueamento global de corais de que se tem notícia. Mas os cientistas ainda torcem para que não seja tão ruim, no geral, quanto em 1998, ano mais quente já registrado, quando se estima que 16% dos recifes de águas rasas do mundo tenham morrido.
Os cientistas dizem que o problema com os corais está associado à mudança climática. Há anos, alertam que os corais, sensíveis ao calor, serviriam como indicadores precoces dos danos gerados pelo acúmulo de gases do efeito estufa. Nos primeiros oito meses de 2010, a temperatura média do planeta foi equivalente à do mesmo período em 1998.
“Estou significativamente deprimido com toda esta situação”, disse Clive Wilkinson, diretor da Rede Global de Monitoramento dos Recifes de Coral, na Austrália.
Os recifes são compostos por milhões de pequenos animais, chamados pólipos. Os pólipos fornecem nutrientes e habitat para algas, que por sua vez capturam a luz solar e o dióxido de carbono para produzir os açúcares que alimentam os pólipos de coral.
As algas conferem aos recifes as suas cores brilhantes; muitos peixes que vivem nesses ambientes também exibem tons e desenhos fantásticos. Os recifes ocupam uma ínfima fração dos oceanos, mas abrigam talvez um quarto de todas as espécies marinhas.
Os recifes são importantes para os bilionários setores da pesca e do turismo. Em algumas nações insulares e em partes de Indonésia e Filipinas, as pessoas dependem dos peixes dos recifes para sua alimentação.
Quando os corais morrem, os peixes não são imediatamente condenados, mas, se o coral não se recupera, o recife pode acabar desmoronando, dizem os cientistas, deixando a pesca bem menos produtiva. Pesquisas indicam que isso já está ocorrendo em parte do Caribe.
Cientistas que acompanham os corais dizem que já notaram um branqueamento generalizado no Sudeste Asiático e no oeste do Pacífico, especialmente na Tailândia, em parte da Indonésia e em algumas nações insulares menores.
As temperaturas diminuíram no oeste do Pacífico, e a crise passou por lá. Na Tailândia, “há sinais de recuperação em alguns lugares”, segundo o biólogo James True, da Universidade Príncipe de Songkla.
O clima varia de lugar para lugar. Tempestades tropicais e furacões avançando pelo Atlântico resfriaram a água no norte do Caribe e podem ter poupado alguns corais. Mais ao sul, porém, as temperaturas ainda estão notavelmente altas, colocando muitos recifes em risco.
Na costa da Austrália a temperatura da água também está acima do normal, e alguns cientistas temem pelo recife mais impressionante da Terra. “Se tivermos uma temporada de monções ruim”, afirmou Wilkinson, “acho que estamos fadados a um sério branqueamento na Grande Barreira de Corais”.
(New York Times, Folha de S.Paulo, EcoDebate, 06/10/2010)