A preocupação com a questão ambiental foi, durante todo o primeiro turno, o eixo dos pronunciamentos e propostas da candidata Marina Silva, do PV. Mas passou quase em branco nas campanhas de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB). Agora, quando os dois correm atrás dos votos do eleitorado de Marina, o tema vai subir de status.
Entre os eleitores verdes, uma das preocupações é verificar qual dos dois candidatos tem propostas mais próximas das que foram apresentadas por Marina. Diferentemente da ex-seringueira e ex-ministra do Meio Ambiente, nem Dilma nem Serra têm histórico de militância na área ambiental.
"Ambos ainda têm dificuldade de conjugar os verbos desenvolver e preservar numa mesma frase", diz o coordenador de políticas públicas do Greenpeace, Nilo D’Ávila.
Nos tempos em que eram colegas de governo, Marina, na pasta do Meio Ambiente, e Dilma, na Casa Civil, ficavam frequentemente em lados opostos. Vista por muitos ambientalistas como um trator do desenvolvimento a qualquer custo, Dilma não tolerava os questionamentos e as ressalvas do pessoal de Marina sobre licenciamento ambiental de hidrelétricas e outras obras de infraestrutura na Amazônia.
"Claro que é normal cobrarem agilidade nos licenciamentos. O que não é normal é desqualificar a questão ambiental como um entrave ao desenvolvimento", diz uma fonte próxima ao governo, que presenciou os embates internos naquele período.
Nas discussões sobre planejamento energético, Dilma, que antes de assumir a Casa Civil foi ministra de Minas e Energia, desdenhava do potencial de fontes renováveis, como eólica, solar, e até da biomassa de cana.
Na questão climática, foi refratária à adoção de metas para a redução das emissões nacionais de gases do efeito estufa, apesar de ter sido a representante do Brasil na malfadada conferência das Nações Unidas sobre mudança do clima, em Copenhague, no fim de 2009, quando a meta foi finalmente anunciada.
"A principal característica (de Dilma) é ainda considerar a questão ambiental como uma restrição e não oportunidade. Todo o resto é consequência disso", avalia Roberto Smeraldi, diretor da organização Amigos da Terra – Amazônia Brasileira. "A conservação é vista como um mal necessário, um problema que precisa ser resolvido para não atrapalhar o desenvolvimento, e não como parte da solução."
Ferramenta. Serra, segundo Smeraldi, já consegue enxergar as questões ambientais como uma ferramenta socioeconômica de promoção do desenvolvimento sustentável. "Acho que foi a mudança climática que fez com que ele enxergasse o tema de outra maneira", diz.
À frente do governo de São Paulo, Serra criou no ano passado a Política Estadual de Mudanças Climáticas, com a meta de redução de 20% das emissões paulistas de gases do efeito estufa até 2020. Foi o primeiro Estado brasileiro a assumir um compromisso desse tipo em lei.
"Ele viu a meta como uma maneira de impulsionar a modernização da indústria, não apenas como uma bandeira ambiental", avalia Smeraldi.
Para Nilo D’Ávila, do Greenpeace, ainda que Dilma tenha batido de frente com Marina no passado, um eventual governo petista teria mais facilidade para adotar uma agenda ambiental proativa, com base na bagagem deixada pela própria Marina. "O PT pode fazer um resgate rápido de planos do passado que têm a digital da Marina. O PSDB terá dificuldade maior."
D’Ávila acha que os tucanos titubeiam em temas cruciais, como o Código Florestal. O Greenpeace enviou um questionário com perguntas sobre o tema a cada candidato, e as respostas foram protocoladas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). "A Dilma é mais direta; vai direto ao ponto e diz que é contra a anistia a desmatadores, por exemplo", relata D’Ávila. "O Serra não aperta a tecla até o fim. É um tema sobre o qual não dá para ficar em cima do muro."
(Por Roldão Arruda e Herton Escobar, O Estado de S.Paulo, 06/10/2010)