Na cidade de Boca do Acre, no interior do Amazonas, as casas são suspensas por conta das cheios dos rios. No encontro do Rio Acre com o Rio Purus, os moradores às vezes sofrem com a subida das águas.
Deposi de mais de uma enchente na década de 1990, a prefeitura de Boca do Acre decidiu mudar boa parte da cidade para uma área mais alta e segura, o bairro Piquiá. Mas pouca gente aceitou.
As enchentes acabaram criando um estilo arquitetônico próprio nas casas mais recentes de Boca do Acre, que agora são suspensas. Para deixar as construções com ar de imóvel novo, a população usa tintas de cores distintas.
"O pessoal está pintando. Aqui você vai encontrar muita casa assim. Tudo que é novidade a gente quer", diz a dona de casa Francisca Rita de Souza, que pintou a casa de verde fluorescente.
"Protege a madeira de apodrecer", diz Isa Souza da Silva, também dona de casa. Já a casa de Ivanilda Santos Silva foi pintada com um amarelo bem forte. A casa em que ela mora tem todo seu interior decorado com panelas. "É porque a gente mora no seringal e toda vez que ia pra cidade comprava", diz Raimunda Santos da Silva.
Em Boca do Acre, virou moda suspender também casas antigas. "Pode morar à vontade que não vai dar problema nenhum", diz Raimundo Rocha dos Santos, que virou uma espécie de "levantador de casas" na cidade. Segundo ele, é possível erguer uma casa em até 3 metros de altura.
(Globo Amazônia, 05/10/2010)