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agenda ambiental marina silva política ambiental
2010-10-05 | Tatianaf

Ambientalistas ouvidos pela BBC Brasil avaliam que a adesão à campanha de Marina Silva à Presidência indica que os brasileiros estão dando mais atenção à agenda ambiental

A candidata do PV, que teve cerca de 20 milhões de votos, saiu da disputa pela sucessão presidencial, mas foi apontada como uma das principais responsáveis pelo segundo turno entre José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT).

Para Valmir Ortega, da ONG Conservação Internacional, Marina conseguiu vencer o desafio de não parecer uma candidata de discurso único. "Durante a campanha, as pessoas perceberam que a sustentabilidade abarca todos os temas de que a sociedade precisa tratar", afirmou.

Para Ortega, o engajamento de jovens na campanha também sinalizou a importância do tema para a nova geração de eleitores.

Já Mario Mantovani, da ONG SOS Mata Atlântica, diz não estar surpreso com o resultado do primeiro turno. "Trabalhei por todo o Brasil, e já tinha percebido que ela chegaria pelo menos aos 15%", afirma.

Mantovani avalia que, com maior estrutura de campanha e um partido mais expressivo, Marina Silva poderia ter tido mais votos.

Na opinião do coordenador de políticas públicas do Greenpeace, Nilo D'Avila, os votos do eleitor brasileiro no domingo estiveram mais orientados para as causas ambientalistas.

D'Avila dá como exemplo o fato de que todos os deputados que se colocaram contrários às mudanças no código florestal no ano passado foram reeleitos com boa margem de votos.

"Nos últimos quatro anos, o Brasil viu inúmeras tentativas de mudar a legislação ambiental. Mas o som que veio da urna é que essa política não define eleição em primeiro turno, por exemplo, porque não tem um apoio maciço da população", declarou.

Segundo turno
De acordo com os especialistas, Marina Silva deve aproveitar a posição de destaque que conquistou para pressionar Serra e Dilma, que disputam o segundo turno das eleições, por propostas concretas de governo.

O pesquisador Anthony Hall, professor da London School of Economics e especialista em desenvolvimento sustentável e questões ambientais brasileiras, diz que a representante do PV terá uma escolha difícil pela frente.

"Serra e Dilma vão prometer mundos e fundos, mas Marina já teve uma experiência dolorosa como ministra, e sabe que é difícil confrontar a realidade da batalha entre desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente", diz Hall.

O professor da LSE afirma ainda que, "se for 'sabida'", Marina Silva tentará conseguir compromissos ambientais dos dois candidatos em público.

Apesar da proposta de Marina de uma votação plenária do Partido Verde para definir o apoio a um candidato no segundo turno, Valmir Ortega diz considerar pouco provável que ela declare seu voto.

"Acredito que ela vai desafiar os candidatos a se pronunciar sobre temas importantes da plataforma dela, para que eles seduzam os eleitores", afirmou o ambientalista da Conservação Internacional.

Todos entrevistados concordam que os resultados do primeiro turno contribuíram para que o meio ambiente seja um tema presente na reta final da campanha, e no próximo governo.

Reformulações
Mesmo com os quase 20 milhões de votos para Marina Silva, o Partido Verde não obteve percentuais expressivos nas urnas na disputa por vagas no Congresso.

Para Valmir Ortega, a pouca influência da campanha de Marina na votação do PV mostra que a candidata "encarna a agenda ambiental melhor do que o partido, que passou os últimos anos apagado na política brasileira".

Segundo Nilo D'Avila, os números de Marina deixam o partido em uma situação complicada no cenário político nacional. "O PV pode ser uma terceira via para o Brasil em 2014, mas, se começar a negociar apoio por cargos políticos, não vai se diferenciar dos outros", diz.

Na opinião de Mario Mantovani, o partido terá que se reformular em vista da visibilidade que ganhou nas eleições. "Para poder existir como um partido, o PV acabou sendo uma sigla que se adaptava onde estava. Agora, vai ter que se reposicionar como defensor da sustentabilidade", avalia.

Mesmo assim, Mantovani é otimista com relação ao impacto que o sucesso da candidata terá na discussão política sobre o meio ambiente. "Marina mostrou que esse é um assunto que veio para ficar", acrescenta o representante da SOS Mata Atlântica.

Já o professor Anthony Hall avalia que o capital político da candidata não deve se transferir facilmente para o partido. "Partidos Verdes tem uma expressão política baixíssima não só no Brasil, mas, atualmente, no mundo inteiro. Você não pode basear um partido inteiro em políticas ambientais", diz o pesquisador.

(Por Camilla Costa, BBC Brasil, 05/10/2010)


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