A indústria brasileira de papel e celulose deve investir US$ 7,45 bilhões em aquisições de ativos florestais até 2020, aponta levantamento divulgado hoje pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP). O montante equivale a 37,28% do total de US$ 20 bilhões a serem investidos pelas indústrias no novo ciclo de crescimento do setor e lidera o ranking dos principais destinos de recursos. Em seguida aparecem os aportes com expansão de capacidade, com US$ 3,67 bilhões (18,38% do total), e com tecnologia, em um total de US$ 3,08 bilhões (15,40%).
Ao consumar o aporte de US$ 7,45 bilhões na área florestal, o setor pretende ampliar a área plantada em território nacional das atuais 2,2 milhões de hectares para 3,2 milhões de hectares. "Esse é o investimento projetado para que consigamos integrar toda a cadeia", afirma o presidente da ABTCP, Lairton Leonardi, em referência à necessidade de ampliação da base florestal para atender a toda a demanda da indústria nacional de celulose.
A projeção das principais entidades do setor, ABTCP e Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), é de que a capacidade de produção de celulose do setor deve saltar de 14 milhões de toneladas em 2010 para 22 milhões de toneladas anuais em 2020, um incremento de 57% no período. A produção de papel deve saltar do número projetado de 9,5 milhões de toneladas em 2010 para 12,7 milhões de toneladas em 2020, alta de 34% no intervalo. Ao se confirmarem esses números, as estimativas do setor apontam que as exportações brasileiras de papel e celulose devem crescer de aproximadamente US$ 6,5 bilhões neste ano para cerca de US$ 12 bilhões em um prazo de dez anos.
Isso acontecerá principalmente porque a demanda mundial por celulose, segmento no qual o Brasil já é o quarto produtor mundial, deve crescer entre 3% e 4% ao ano no período. Já o consumo mundial de celulose de eucalipto tende a ter variação anual de 4,7% até 2025, segundo estimativa da consultoria Pöyry.
A maior parte do aumento do consumo de celulose no mundo deverá ocorrer por conta da crescente expansão do consumo de papel na China e do potencial de consumo de mercados como o indiano. Segundo o vice-presidente da Pöyry Tecnologia, Carlos Alberto Farinha e Silva, o consumo per capita da Índia é de apenas 10 quilos por habitante ao ano, contra uma média mundial de 57,5 quilos por habitante ao ano - no Brasil, o consumo é de 44,2 quilos per capita/ano. "Teremos uma nova onda de consumo quando o mercado indiano apresentar taxas expressivas de crescimento", afirma, projetando que aconteça na Índia o mesmo que aconteceu na China.
A previsão da Pöyry é de que, nos próximos 15 anos, a Ásia vai desbancar os mercados tradicionais como principal consumidor global de celulose. As estimativas da companhia apontam que a participação de América do Norte, Europa Ocidental e Japão no consumo de celulose vai cair de 53% com base em números de 2008 para 36% em 2025. Já a participação da Ásia, incluindo China e Oriente Médio, caminhará na direção contrária: passará de 35% para 50% em 2025.
Concomitante, a necessidade de importação de matérias-primas de outras regiões será crescente - o que indica que a expansão da produção asiática não será suficiente para acompanhar o aumento da demanda. Apenas a China terá necessidade de importar 12 milhões de toneladas de celulose ao ano. Já a exportação líquida da América Latina deve saltar das atuais 8 milhões de toneladas para 17 milhões de toneladas em 2025, confirmando a expectativa de que países como Brasil e Uruguai venham a se consolidar como os grandes fornecedores de celulose para o mercado asiático.
(Por NDRÉ MAGNABOSCO, Agencia Estado, 05/10/2010)