Os adubos químicos sugiram como alternativa de aproveitamento dos estoques de armas não utilizadas durante a 2ª Guerra mundial, substituindo os métodos agrícolas que necessitavam dos processos naturais para a produção de alimentos pela adição em grandes quantidades de fertilizantes, especialmente os nitrogenados, garantindo a afirmação de um modelo agrícola baseado nas monoculturas extensivas, concentrando as propriedades das terras, inviabilizando as atividades agrícolas familiares e comunitárias, estabelecendo o êxodo e a migração rural e criando reservas de mão de obra para o desenvolvimento industrial de grandes centros urbanos em que se estabeleceram as indústrias multinacionais associadas direta ou indiretamente com a implantação do novo modelo agroindustrial.
Esta uniformização da produção agrícola foi denominada Revolução Verde e transformou a agricultura em um negócio objetivo e imediatista, onde a geração de lucros é a meta final.
A revolução verde imposta principalmente pelos EUA sobre o terceiro mundo foi (ainda é) uma campanha de venda de armas recicladas pela indústria química e as variedades de alta produtividade associadas com os pacotes agrícolas como na guerra precisam de alta resposta. São variedades híbridas ou geneticamente modificadas dependentes do comando dos adubos químicos e dos herbicidas associados para produzirem de modo satisfatório. A degradação dos solos e dos espaços naturais através da destruição da vegetação nativa, aragem, erosão e exposição permanente foi o primeiro impacto ambiental significativo do agronegócio sobre as terras produtivas. Indispensável destacar que as intervenções sobre as áreas naturais foram completamente desvinculadas de qualquer planejamento, potencializando os impactos negativos mesmo em áreas não atingidas diretamente pelas monoculturas.
A erosão dos solos, além de destruir a capacidade produtiva destes, levou para os rios, estuários, lagos e mares grandes quantidades de fertilizantes nitrogenados, estimulando a proliferação de algas que ao se decomporem consomem o oxigênio da água e causam a alteração total dos ciclos bióticos relacionados com as plantas e animais aquáticos. Na decomposição, as algas emitem dimetil sulfito que combinado ao oxigênio do ar forma dióxido de enxofre, o principal componente da chuva ácida. As águas subterrâneas também foram (e estão) contaminadas por fertilizantes e defensivos utilizados sem nenhum critério e/ou orientação responsável pelos departamentos técnicos dos governos que se tornaram auxiliares da indústria agroquímica, inclusive na emissão de receitas agronômicas, correção dos solos e financiamentos de acordo com as orientações disponibilizadas pelas empresas, uniformizando os procedimentos produtivos e administrativos e fortalecendo o sistema de produção extensiva.
O fornecimento e a qualidade da água nos centros urbanos também foram drasticamente afetados, visto que a agricultura industrial passou a utilizar mais recursos hídricos, diminuindo através do uso direto e do assoreamento os reservatórios de água potável disponíveis. A contaminação por nitratos (provenientes dos fertilizantes nitrogenados) das águas fornecidas aos centros urbanos é um problema de saúde pública que apresenta graves consequências. Os nitratos são transformados nos organismos animais em nitritos que capturam a hemoglobina e reduz a capacidade do sangue no transporte de oxigênio, causando metahemoglobinemia, uma desordem sanguínea que afeta principalmente crianças. Os nitratos quando combinados nos aparelhos digestivos com aminas, formam nitrosaminas que são substâncias altamente cancerígenas. A qualidade nutricional dos alimentos produzidos através de adubos químicos também é inferior no fornecimento de minerais e vitaminas aos organismos, causando desequilíbrios alimentares mesmo quando a ingestão é suficiente ou excessiva.
Portanto, os impactos sociais e ambientais da agricultura industrial e do uso de fertilizantes químicos na produção de alimentos são altamente negativos para os espaços naturais e a saúde humana, afetando a flora, a fauna e os recursos hídricos de modo dramático, ao mesmo tempo em que concentra os lucros em algumas poucas corporações e distribui os prejuízos à sociedade. É indispensável revisar-se este modelo agrícola e substituí-lo por alternativas que contribuam para a produção de alimentos de qualidade, que estimulem a autonomia dos produtores e consumidores e garantam a preservação da fertilidade dos solos para as futuras gerações de seres vivos.
Antonio Silvio Hendges, articulista do Portal EcoDebate, é Professor de biologia e agente educacional no RS. Email – as.hendges{at}gmail.com
(EcoDebate, 05/10/2010)