A inauguração da planta verde da Braskem, em setembro, acendeu mais uma vez o alerta sobre o futuro promissor do cultivo de cana-de-açúcar no Rio Grande do Sul. No entanto, ainda há muitos gargalos a serem superados para que a produção gaúcha possa ter volume a ponto de se tornar fornecedor de matéria-prima para a produção de plástico verde.
"É uma grande oportunidade, mas só poderemos aproveitar a médio prazo, em cinco ou seis anos", admite diretor-técnico e assessor em Agroenergia da Emater-RS, Alencar Rugeri.
Mesmo após a publicação do tão esperado zoneamento da cana-de-açúcar, há cerca de um ano e meio, a área cultivada teve um tímido crescimento, passando de 35 mil hectares para pouco mais de 36 mil em todo o Estado, dos quais 25 mil são usados para subsistência das propriedades e apenas 11 mil com fins comerciais. Estimativas da Emater-RS indicam que a produtividade por hectare chega a 50 toneladas. Conforme Rugeri, a demanda da Braskem chega a 600 milhões de litros de etanol, volume que seria viável com o cultivo de 70 mil hectares e produtividade média de 80 toneladas por hectare.
Na opinião do especialista, o maior entrave está na difusão e aplicação de tecnologia a campo. "Tudo o que é novo gera resistência, é uma cultura diferente que está começando a conquistar os produtores. É preciso quebrar alguns paradigmas", salientou. Entre os municípios que mais têm demonstrado interesse em dar início ao cultivo de cana estão os localizados no Noroeste do Estado, como Porto Xavier, Cândido Godoy, além de Santa Maria, Ijuí e Erechim.
As cultivares, desenvolvidas pela Embrapa, já estão disponíveis aos gaúchos. "Estamos diante de um castelo a ser construído, avançamos muito, mas ainda há fatores essenciais a serem superados." Para o assessor de política agrícola e meio ambiente da Fetag, Alexandre Scheifler, a mecanização das lavouras é considerada a principal dificuldade enfrentada pelos produtores. "É impossível utilizar em pequenas áreas as mesmas colheitadeiras que se usa em São Paulo", disse o dirigente. Segundo ele, é preciso buscar novas alternativas, uma vez que no Rio Grande do Sul as queimadas são proibidas e falta qualificação e volume de mão de obra para o trabalho nas lavouras.
Outro ponto ressaltado por Scheifler se refere à necessidade de maior organização da cadeia produtiva, especialmente de cooperativas, que em alguns casos atuam no limite da capacidade produtiva e, em outros, tem problema de falta de matéria-prima. A planta verde de Triunfo, que absorveu R$ 500 milhões em investimentos, terá capacidade para produzir anualmente 200 mil toneladas de eteno, que serão transformadas em 200 mil toneladas de polietileno.
(Por Ana Esteves, JC-RS, 05/10/2010)