A indústria de celulose está concentrando a maior parte de seus investimentos na aquisição de ativos florestais para garantir auto-suficiência no suprimento de matérias-primas durante os próximos dez anos. Do total de investimentos realizados pelo setor, 37,28% estão sendo destinados a essa finalidade, apontou um estudo divulgado hoje pela Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP).
"Esse investimento é para integrar toda a cadeia e manter a produtividade e o fornecimento sem maiores problemas", disse Lairton Leonardi, presidente da entidade, durante a apresentação dos números de uma sondagem com 26 companhias à imprensa.
A estimativa leva em conta um aumento na demanda tanto no mercado doméstico quanto no internacional. Projeções oficiais - traçadas pela Bracelpa - apontam para investimentos de US$ 20 bilhões no setor até 2020, o que aumentará a produção de celulose de 14 milhões para 22 milhões de toneladas. Já a produção brasileira de papel - nona maior do mundo - deverá avançar 34% no período, para 12,7 milhões de toneladas.
A expectativa é que o setor alcance 3,2 milhões de hectares em área plantada até 2020, mas ainda há muito espaço para crescimento nessa área, dado que o país, segundo Leonardi, tem 70 milhões de hectares em áreas disponíveis - sem contar as preservadas - para aumentar o plantio. "Ainda temos essa área para trabalhar, e áreas boas para se trabalhar", afirmou.
De acordo com Afonso Moraes de Moura, gerente técnico da ABTCP, após corrigir déficits registrados durante a crise financeira, a indústria de papel e celulose volta agora a investir. "As respostas após a crise têm que ser diferentes. Neste ano, as empresas ainda se preocuparam muito em reorganizar as finanças. Para o ano que vem, estamos percebendo um novo approach", disse Moura, acrescentando que, no caso da indústria de papel, os investimentos tendem a se concentrar na eliminação de gargalos de produção.
Conforme a sondagem da entidade, os investimentos em aumento de capacidade e ampliação de planta respondem por 23,87% do total. Já os desembolsos na evolução tecnológica correspondem a 15,4%. Vale notar que nenhum dos participantes da pesquisa investe em uma nova planta, o que consumiria parcela significativa dos aportes.
O estudo ainda mostra que 25% dos investimentos nos próximos anos devem se concentrar na indústria de celulose, enquanto outros 28,13% estarão no segmento de papel de embalagens. Por fim, a indústria de papel tissue e off-set (usados para impressão) responderão por 12,5% e 9,38% dos aportes previstos, respectivamente.
O levantamento não faz um detalhamento dos investimentos previstos por região, mas Leonardi disse que o Nordeste é a "nova grande fronteira" para a indústria de celulose, citando os projetos da Suzano envolvendo fábricas desse produto no Maranhão e no Piauí. Fora isso, o presidente da associação apontou espaço para novos movimentos de consolidação no Rio Grande do Sul.
(Por Eduardo Laguna, Valor Online, 04/10/2010)