A pesquisadora Sarah Ogalleh Ayeri vai de aldeia em aldeia no distrito de Laikipia, na província queniana do Valle do Rift, documentando os métodos usados pelos camponeses para adaptarem-se às mudanças das condições climáticas. Este distrito, no altiplano que fica a noroeste do Monte Quênia, está dividido em duas regiões ecológicas. A mais próxima da montanha é mais úmida na estação da chuva e a do norte árida.
“Os agricultores desta região quase não podem plantar por causa da seca. Mas têm animais, camelos, cabras e ovelhas”, disse Celestino Achole Shikulu, camponês da aldeia de Piyenti, em Rumuruti, uma localidade de Laikipia. “Os habitantes dessa região tinham que caminhar muitos quilômetros para conseguir água para o gado, até que chegou um agricultor britânico que os ajudou a construir uma grande represa para dar de beber aos animais”, contou Celestino. A obra foi feita perto de um manancial, que é completado com água da chuva, que é irregular.
“As medidas de adaptação que registro podem ser locais ou aprendidas. Minhas recomendações se concentrarão sobre a melhor forma como podem ser aproveitadas pelas comunidades locais”, explicou Sarah. O título de seu estudo é “Lições dos Camponeses: Adaptações Agrícolas Localizadas como Elemento Básico para Adequar-se à Mudança Climática no Distrito de Laikipia”. A especialista trabalha no Centro de Capacitação e Pesquisa Integrada para o Desenvolvimento de Terras Áridas e Semiáridas.
“É importante localizar novos métodos de adaptação, avaliá-los e depois testá-los antes de promover seu uso entre os camponeses. Muitas vezes são apresentadas a eles novas tecnologias que se mostram insustentáveis no longo prazo”, disse Sarah. Judith Mwikali Musau é uma camponesa que introduziu com sucesso o cultivo de enxertos e frutas em sua propriedade no leste do Quênia. “Desde pequena vi meus país plantarem tipos particulares de frutas, grãos e legumes. Para melhorar a produção integrei conhecimentos indígenas com tecnologias apropriadas, como os enxertos e a permacultura”, explicou.
A permacultura é um sistema pelo qual são criados assentamentos humanos sustentáveis, ecologicamente sãos e economicamente viáveis, que possam se autoabastecer sem explorar seus próprios recursos nem contaminar o entorno, e, ainda, sejam sustentáveis no longo prazo. Judith tem, em seus três hectares, cerca de 500 enxertos de manga, 800 de laranjas e 150 de tangerina. Todos plantados com outros cultivos como legumes, entre os quais prevalece os feijões guandu e caupi.
Mas nem todos os camponeses podem fazer o mesmo que Judith. “É muito difícil para os agricultores adaptarem-se às novas tecnologias. Podem parecer lucrativas no começo, mas a experiência mostra que a maioria não pode se sustentar no âmbito local”, disse Sarah. Antes de impulsionar qualquer medida de adaptação à mudança climática é importante considerar algumas questões importantes, afirmou.
“Primeiro, temos que compreender a estratégia preferida pela comunidade local. Para isso temos que saber com veem a mudança climática, como relacionam suas estratégias com o fenômeno e como conseguir que seus métodos sejam mais efetivos, eficientes e sustentáveis”, insistiu Sarah. É fundamental compreender a motivação dos agricultores na escolha de uma medida de adaptação em particular e estudar quais podem e quais não podem servir a eles.
A Conferência das Nações Unidas realizada em Nairóbi, no mês de maio deste ano, que se propôs a dar conselhos na implementação do Convênio sobre a Diversidade Biológica, reconheceu a importância de recuperar o conhecimento indígena na agricultura africana como medida de adaptação à mudança climática.
Especialistas preveem que a mudança climática afetará muito a África e que a agricultura será o setor mais prejudicado, o que terá impacto em milhões de famílias que vivem dessa atividade. Sarah espera que sua pesquisa seja útil para as autoridades encarregadas de criar políticas agrícolas no Quênia e em outros países. Seu estudo faz parte de um programa patrocinado pela organização Africanas em Desenvolvimento e Pesquisas Agrícolas, do Grupo de Consultoria para a Pesquisa Agrícola Internacional.
(Por Isaiah Esipisu, da IPS, Envolverde, 04/10/2010)