Mais de um quinto das espécies de plantas do mundo corre o risco de se extinguir, uma tendência com efeitos potencialmente catastróficos para a vida na Terra, revela um estudo publicado nesta quarta-feira.
Uma segunda pesquisa também alertou para o fato de a extinção dos mamíferos ter sido superestimada e sugeriu que algumas espécies que se acreditavam extintas ainda poderão ser redescobertas.
Diretor do Royal Botanic Gardens em Kew, Londres, Stephen Hopper disse que o relatório sobre a perda de plantas é o mapeamento mais preciso já feito sobre a ameaça para as estimadas 380 mil espécies de plantas do planeta.
"Este estudo confirma o que nós já suspeitávamos. As plantas estão sob ameaça e a principal causa é a perda de habitat pelas mãos do homem", disse no lançamento do chamado "Sampled Red List Index".
O estudo, realizado em conjunto com o Museu de História Natural, em Londres, e com a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), estabelece "linhas gerais" dos futuros esforços de preservação, afirmou.
"Não podemos nos sentar o observar o desaparecimento das espécies de plantas. Elas são a base de toda a vida na Terra, fornecendo ar limpo, água, comida e combustível. Toda a vida animal depende delas, assim como nós", acrescentou Hopper.
O estudo é publicado antes de uma reunião, em Nagoia, no Japão, entre 18 e 29 de outubro, quando membros da Convenção da Biodiversidade, das Nações Unidas, estabelecerá novas metas para salvar as espécies ameaçadas.
Craig Hilton-Taylor, da IUCN, disse esperar que o encontro de Nagoia estabeleça uma meta para se evitar a extinção de quaisquer espécies ameaçadas até 2020. "Queremos nos assegurar de que as plantas não serão esquecidas", afirmou.
Em seu estudo, os pesquisadores avaliaram cerca de 4.000 espécies, das quais 22% foram classificadas como em risco, especialmente nas florestas tropicais.
As plantas estão mais ameaçadas do que as aves, tão ameaçadas quanto os mamíferos e menos do que os anfíbios e os corais, destacou a pesquisa. Os gimnospermas, grupo de plantas que inclui os pinheiros, estão entre os mais ameaçados.
O maior perigo é representado pela perda de habitat provocada pelo homem, a maioria, conversão de habitats naturais para cultivo e criação de gado. A atividade humana responde por 81% das ameaças, disse o pesquisador do Kew, Neil Brummitt.
RESSURGIMENTO
Outro estudo realizado por dois autores australianos demonstrou que menos espécies de mamíferos podem se extinguir, especialmente aquelas ameaçadas por perda de habitat.
Diana Fisher e Simon Blomberg, da Universidade de Queensland, disseram ter identificado 187 mamíferos que foram dados como "perdidos" desde 1500, 67 espécies das quais foram reencontradas. Seu artigo foi publicado na revista "Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences", da Academia de Ciências britânica.
"A extinção é difícil de detectar", ressaltou o estudo. "Espécies com grandes vácuos em seus registros de avistamento, o que as torna passíveis de ser consideradas extintas, frequentemente são redescobertas."
Os mamíferos afetados por perda de habitat eram "muito mais propensos a ser desclassificados como extintos" do que aqueles afetados por predadores ou enfermidades introduzidos ou por sobrecaça. Consequentemente, impactos de perda de habitat ou extinção provavelmente foram superestimados, especialmente no que diz respeito a espécies introduzidas", acrescentou.
Os autores disseram que esforços para caçar mamíferos extintos devem ser desviados das tentativas frequentemente infrutíferas para redescobrir espécies "carismáticas", como o lobo-da-austrália, um marsupial carnívoro, considerado o último exemplar morreu em 1936 na Tasmânia.
Na semana passada, os conservacionistas anunciaram que duas espécies de um sapo africano e de uma salamandra mexicana, que se temia estarem extintos no século passado, foram reencontrados por equipes de cientistas que exploravam lugares remotos, às vezes colocando-se em grande risco.
(Efe, Folha.com, 28/09/2010)