Aos poucos, segmentos da sociedade estão acordando para a urgência de considerar as variáveis socioambientais em estratégias de comunicação. No entanto, infelizmente, o que se vê na maior parte dos projetos e planejamentos é que esses pontos cruciais são colocados em segundo plano. A direção certa aponta para um só caminho, onde a comunicação e as ações socioambientais andam juntas, de mãos dadas, de forma transversal.
No entanto, em muitos casos, parece que essas áreas são enxergadas como "patinhos feios". O meio ambiente e a comunicação não são tratados como prioridade, são sempre os últimos a receberem recursos, seja por parte dos governos, seja pela iniciativa privada. E o pior é que muitas vezes os técnicos quem trabalham com questões como inovação, sustentabilidade e relações com a comunidade acabam esquecendo as tramas da comunicação.
Recentemente, conversando com um professor, que é doutor de uma universidade gaúcha, me deparei com essa questão. Ele me contou que passou uma noite inteira escrevendo um projeto e que sua entidade estava empenhada em obter recursos através de editais de concorrência pública. Então veio a pergunta que não quer calar: e o que está previsto para a comunicação? A resposta veio: a gente pensou na divulgação, na elaboração de um folder…
Daria para rir, se fosse cômico, mas isso é trágico! Pior: isso é o que pensa boa parte das pessoas que formulam projetos para a área ambiental. Elas acham que comunicação é produzir um folder ou veicular uma propaganda no rádio ou TV, ou então fazer um blog.
Essas pessoas são biólogos, agrônomos, engenheiros, sociólogos, advogados - em alguns casos até mesmo publicitários e jornalistas - enfim, gente ultra capacitada que tem demonstrado não ter a menor noção da importância de um processo de comunicação transformador, engajado aos tempos de agravamento da temperatura global.
Resultado disso: milhões, bilhões de reais, dólares e muito esforço que são aplicados mas que não recebem uma visibilidade adequada. Em um projeto com a comunidade, por exemplo, ela própria, a beneficiada, não fica sabendo o que rolou, nem o proponente e o financiador são divulgados como deveria. O mais cruel nisso tudo é que impactos positivos ou negativos não são traduzidos nem para os atingidos, nem para imprensa.
Nesse sentido, foi muito louvável a iniciativa do Conselho Empresarial Brasileiros para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) de ter realizado em Porto Alegre, onde boa parte da população ainda acha que quem defende o meio ambiente é ecochato, um seminário para tratar de ações de comunicação para sustentabilidade nas empresas.
O CEBDS reúne as empresas que detém 40% do PIB brasileiro. O Conselho dispõe de uma Câmara Técnica para tratar exclusivamente de comunicação e meio ambiente. E até lançaram um Guia de Comunicação e Sustentabilidade que denota um grande passo em direção a práticas mais conscientes.
Ouvi "pérolas" de alguns palestrantes, como a importância de se promover o diálogo dentro das corporações para se encontrar novas soluções. Deve ser como "um jogo de frescobol", explicou Rachel Negrão Cavalcanti, consultora e coordenadora do curso de Gestão da Sustentabilidade e da Responsabilidade Social Corporativa da Unicamp. Ela frisa que as relações precisam ter trocas, para isso, é necessário realizar oficinas de autoconhecimento para fundamentar os valores da sustentabilidade. E achei o máximo ela ter empregado a ideia de Umberto Marioti, de o processo todo não pode "deixar que o ego atrapalhe a troca". Rachel ainda ressaltou que as universidades não estão preparadas para tratar da transversalidade que a sustentabilidade exige.
A última mesa do encontro, que foi no dia 31 de agosto, contou com a presença de profissionais que foram sinceros e confessaram que, realmente, estamos diante de um processo de transição, onde a sociedade está começando a abrir os olhos para a complexidade do tema.
Arrisco a tecer esse comentário porque achei bárbara a confissão do publicitário Roberto Cassano, da Frog Comunicação. Ele foi curto e grosso: … se houver uma disputa entre a conta e a sustentabilidade, a conta é mais importante. E se mostrou preocupado com o futuro de seus filhos.
Estava bem empolgada, animada, mas depois de ouvir as respostas das minhas perguntas, me convenci que o "Vamos fazer juntos", o slogan emblemático do Santander, precisa ser cada vez mais colocado em prática. Pois apenas trocando, fazendo, com participação podemos realmente caminhar rumo à sustentabilidade, algo que para muitos é utópico. Acredito que em muitos casos não é preciso inventar a roda, basta ter vontade e perceber que a vida é muito mais do que correr atrás de dinheiro.
Silvia Marcuzzo, é jornalista e trabalha a temática socioambiental desde 1993.
(Mercado Ético, 27/09/2010)