No dia último dia 14, moradores da província de Espinar, no Peru, iniciaram uma greve por tempo indefinido contra a licitação do projeto de irrigação Majes Siguas II, que visa abastecer Arequipa com recursos hídricos e pode deixar a província com déficit. Por falta de resposta, a população intensificou as manifestações e o mesmo foi feito pelas forças de segurança, que incrementaram a repressão. O resultado foi uma pessoa morta e vários menores de idade feridos gravemente.
Na tentativa de ajudar a solucionar a situação da província, o Mosenhor Miguel Cabrejos, presidente da Conferência Episcopal Peruana foi a Espinar para dialogar e chegar a uma solução que coloque fim à greve. Apesar de sua visita, realizada a pedido do governo, os grevistas exigem a formação de uma comissão de alto nível que solucione suas demandas e investigue a morte de uma pessoa, ocasionada pela repressão policial.
A reunião não apresentou grandes avanços, pois a população decidiu permanecer em greve por tempo indeterminado, mas se comprometeu a realizar manifestações pacíficas. De acordo com o premier José Antonio Chang, que também esteve presente na reunião, ao governo não falta vontade de dialogar, no entanto exige-se o encerramento da greve para que seja criada a comissão de alto nível.
Após a declaração, os grevistas se manifestaram afirmando que as ações pacíficas continuarão a ser realizadas e não haverá trégua, visto que a população está em seu direito de reivindicar pela água. Mesmo assim, asseguraram que os porta-vozes podem visitar a província com tranquilidade, pois a segurança estará garantida.
A Frente de Defesa dos Recursos Naturais (FDRN) está apoiando o protesto popular e rechaçando a intensificação da repressão policial contra os manifestantes de Espinar, já que, até o momento, a repressão indiscriminada resultou apenas em mortos e feridos. Entre os 17 afetados pelas ações estão cinco menores de idade.
Kevin Quispe Alca (17 anos), Anderson Macarco Quispe (16 anos) e Arturo Anco Calla (17 anos) foram feridos à bala e se encontram no Hospital Geral Honorio Delgado. Já Miguel Angel Sumac Paucara (16 anos), que foi submetido a duas cirurgias por consequência da perfuração à bala no estômago, está em estado mais grave e se encontra internado na Clínica San Juan De Dios, em Arequipa.
A estes casos, pode ser somado o de quatro menores de idade que perderam o pai, Leoncio Fernández Pacheco, vítima da repressão, e mais crianças e adolescentes que se encontram desassistidos pelos pais, que se encontram feridos e internados.
A Coordenadora Nacional de Direitos Humanos também saiu em defesa da vida e da integridade das crianças e adolescentes de Espinar, que estão sendo detidas e feridas com gravidade em meio ao conflito pela água. A coordenadora lembra que o governo peruano deve respeitar a Convenção de Direitos Humanos da Criança, adotada em 1990, e o Código da Criança e do Adolescente, que pregam que ‘toda criança deve crescer sob a proteção e o cuidado que sejam necessários para seu bem-estar, em um ambiente de compreensão, tolerância, amizade entre povos, paz e fraternidade’, exigências que estão sendo transgredidas por completo.
O Projeto
A greve empreendida pela população de Espinar foi desatada devido à licitação do projeto de irrigação Majes Siguas II, que está sendo desenvolvido para abastecer Arequipa com recursos hídricos. Espinar ficaria com um déficit de 12,8 milhões de metros cúbicos de água por ano, que seriam retirados do rio Apurímac. No futuro, o projeto poderá provocar escassez de água para as plantações da província.
(Por Natasha Pitts, Adital, 24/09/2010)