Essa sexta-feira entra para a história do setor petroquímico brasileiro. A inauguração da unidade de eteno verde (feito a partir do etanol da cana-de-açúcar) da Braskem, que será acompanhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deverá incentivar a produção de mais resinas a partir de matérias-primas renováveis ao invés das fontes fósseis. E o Rio Grande do Sul continuará aproveitando essa tendência, pois a empresa também implementará no Polo Petroquímico de Triunfo um outro complexo para produzir polipropileno a partir do álcool.
O responsável pelo empreendimento Polímeros Verdes da Braskem, Sérgio Luiz Gomes, informa que a companhia realiza os estudos de engenharia básica para a produção de polipropileno verde e a perspectiva é de que em dois a três anos a comercialização desse produto torne-se uma realidade. Ele adianta que será uma planta com uma escala menor do que a de eteno. A unidade de eteno tem capacidade para produzir em torno de 200 mil toneladas anuais, que serão transformadas em outras 200 mil toneladas da resina polietileno verde.
As obras iniciaram em abril de 2009 e foram finalizadas em agosto deste ano. A planta já está operando em capacidade plena e entregará o polietileno a partir de outubro. Cerca de 75% da produção já está contratada, sendo que em torno de 85% desse volume será destinado às exportações. A resina será utilizada para fabricação de sacolas, embalagens para cosméticos etc.
Aproximadamente 2,2 mil trabalhadores participaram da construção do complexo. As características físicas do plástico verde são semelhantes às do derivado fóssil, mas, como a sua matéria-prima é a cana-de-açúcar, durante o processo de crescimento da planta há a absorção de gás carbônico, o que é uma contribuição para o meio ambiente. Gomes relata que a cada quilo de plástico convencional produzido é emitido na atmosfera cerca de 2,5 quilos de CO2. No caso da resina verde, a cada quilo ela captura da atmosfera de 2 a 2,5 quilos de CO2, através da fotossíntese da cana.
Aproximadamente 100 postos de trabalho diretos serão gerados com a operação da unidade e mais cerca de 200 indiretos. A estrutura implicou investimento em torno de R$ 500 milhões e mais R$ 100 milhões foram destinados às plantas de polietileno para aumentar suas capacidades e para que possam trabalhar com o produto. A unidade consumirá em torno de 470 milhões de litros de etanol ao ano que serão provenientes de outros estados. Gomes lembra que, hoje, a produção de cana no Rio Grande do Sul é pequena. Contudo, a expectativa é que a região, em três a quatro anos, aumente a produção e passe a fornecer etanol para a planta de Triunfo.
O dirigente adianta que possíveis "desgargalamentos" do complexo poderão aumentar a capacidade de fabricação de polietileno verde no futuro. Além dos investimentos nas resinas, a Braskem destinou cerca de R$ 25 milhões em uma unidade de secagem de etanol que possibilitará, a partir de outubro, que se utilize o álcool hidratado para fabricar ETBE (bioaditivo para combustível). Hoje, a matéria-prima usada é o álcool anidro, mais caro do que o outro produto.
(Por Jefferson Klein, JC-RS, 23/09/2010)