Residentes de uma terra indígena com 96,5 mil km², área maior do que duas vezes o estado do Rio de Janeiro mais o Distrito Federal somados, os yanomami desmataram o equivalente a 0,2% de seu território desde 1987. A informação faz parte da pesquisa finalizada recentemente pelo geógrafo Maurice Seiji Tomioka Nilsson, que analisou o impacto dos indígenas no meio ambiente e o deslocamento das aldeias dentro do território em quatro períodos distintos.
Nilsson morou por anos na entre os yanomamis, distribuídos entre o Amazonas, Roraima e a Venezuela, e também aprendeu a se comunicar em uma de suas línguas. Uma das razões encontradas por ele para explicar o deslocamento dos indígenas tem caráter cultural. Os yanomamis mudam suas aldeias de lugar quando algum parente morre ou adoece, observação de uma tese do antropólogo Bruce Albert, citado na pesquisa de Nilsson, feita em 2008 e 2009.
Comunidades de Maturacá e Ariapú representam maior sedentarização na Terra Indígena Yanomami, segundo pesquisador. Cerca de 1.200 pessoas vivem no local.
Ele também reuniu explicações de outros autores sobre a migração dos yanomami dentro da reserva. Fatores relacionados à sobrevivência das tribos, como falta de animais para a caça ou o surgimento de epidemais, também fazem os povos mudarem de lugar, segundo a pesquisa. Outra vertente analisa a apropriação de ferramentas de agricultura apresentadas por sociedades não indígenas, nesse caso relacionadas à sedentarização de tribos.
"Existem pouquíssimas comunidades sedentárias, geralmente relacionadas à atuação de não indígenas, e as que existem possuem alguma estratégia para ampliar sua área de ação", diz Nilsson, que também avaliou a forma como os povos impactaram a floresta com seus deslocamentos.
A partir da análise de imagens de satélite registradas em quatro períodos distintos - entre 1987 e 1988; 1994 e 1995; 2001 e 2002; 2008 e 2009 -, o pesquisador identificou todas as comunidades yanomami para entender como os indígenas estavam se deslocando em seu território durante o tempo e se sua ação sobre a floresta deixava marcas permanentes na vegetação.
"Todo o desmatamento que identifiquei nos quatro períodos analisados soma 18 mil hectares, o que representa 0,2% do território homologado. Uma boa parte disso já foi regenerada", diz ele.
Nilsson calculou 12 pontos na reserva yanomami com maior sedentarização desde 1987. Naquele ano, a reserva possuía 169 comunidades. A população dobrou desde então e em 2008 havia 237 comunidades no local, com cerca de 18 mil moradores. "De forma geral, é possível dizer que a taxa de regeneração da floresta é muito mais alta em comunidades com maior mobilidade", diz ele.
(Por Lucas Frasão, Globo Amazônia, 23/09/2010)