O diretor do Observatório Geofísico Voeikov da Rússia, Vladimir Kattsov, afirmou nesta quarta-feira que as geleiras do Ártico podem desaparecer totalmente na segunda metade do século 21.
Kattsov alertou, em um fórum internacional sobre o futuro do Ártico que começou em Moscou, que a superfície de gelo da região foi reduzida ao mínimo histórico, segundo recentes observações por satélite.
Segundo os especialistas, o degelo provocará aumento significativo do nível do mar no mundo todo, o que poderia causar a inundação de ilhas e territórios litorâneos, assim como a destruição de ecossistemas e o desaparecimento de inúmeras espécies.
"A temperatura média no Ártico russo cresceu nos últimos cem anos com rapidez duas vezes maior que a do resto da Terra", disse o assessor do governo russo para mudanças climáticas, Alexander Bedritski, que assinalou: "O derretimento de gelos eternos ["permafrost"] já afeta a vida econômica da região ártica russa."
As reuniões de ambientalistas e políticos de todo o mundo, como o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, vão até a próxima quinta-feira, com a meta de debater os efeitos da mudança climática no Ártico e os interesses internacionais nessa zona.
RESERVAS DE HIDROCARBONETOS
A necessidade de delimitar as fronteiras marítimas no oceano Ártico, que abriga um quarto das reservas mundiais de hidrocarbonetos, é preocupação cada vez maior dos países que sofreriam com a acentuação do degelo.
Rússia, Canadá, Dinamarca, Noruega e Estados Unidos --os cinco países com costa ártica-- protagonizam há décadas uma disputa pelos bilhões de toneladas de petróleo e gás da região.
Só o mar de Barents, de soberania repartida em partes iguais entre Rússia e Noruega, abriga dezenas de bilhões de toneladas de petróleo e gás.
"O setor russo do Ártico, onde vive cerca do 1,5% da população do país, é responsável por perto de 11% da produção nacional, o que representa 22% do total das exportações", afirmou Bedritski.
Chegar a um consenso, no entanto, não será uma tarefa simples, já que cada nação tem uma concepção diferente sobre seus territórios.
O ministro de Assuntos Exteriores russo, Serguei Lavrov, assinalou que seu país reúne novas provas e que planeja apresentar à ONU em 2013 para revisar os limites da plataforma continental russa, incluindo a cordilheira submarina Lomonósov.
A Convenção da ONU de 1982 estipula que a cordilheira Lomonósov não pertence a nenhum governo, já que é uma zona com status especial.
Outros países com interesses na região, como os Estados Unidos, Canadá e Dinamarca, criticaram os métodos utilizados pela Rússia para defender seus direitos sobre o Ártico, e devem apresentar solicitações similares perante a ONU.
(Folha.com, 22/09/2010)