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animais transgênicos mosquitos transgênicos
2010-09-22 | Tatianaf

Os mosquitos “exterminadores” são a última arma do governo da Malásia contra o mortal vírus da dengue, mas ativistas e ambientalistas alertam para riscos de saúde pública. O governo tem planos de liberar, em dezembro, mosquitos machos geneticamente modificados, que transmitiriam às fêmeas genes letais para destruir as larvas e assim reduzir a população do Aedes aegypti, espécie portadora e transmissora do vírus para humanos.

“Existem formas mais seguras e benignas de lutar contra a dengue” do que este projeto, cujo impacto é desconhecido, alertou Mohamed Idris, presidente da Associação de Consumidores de Penang, que realiza campanhas para proteger a saúde ambiental e pública. “São alternativas como os controles biológicos da população do mosquito e da propagação das infecções da dengue”, afirmou Mohamed em uma entrevista. Por exemplo, os extratos de plantas, óleos e larvicidas biológicos são mais baratos, seguros e efetivos, destacou.

“Liberar na natureza mosquitos geneticamente modificados em laboratórios poderia ter graves consequências”, disse Mohamed, refletindo a preocupação pública sobre a iniciativa conjunta do Instituto de Pesquisa Médica da Malásia e a companhia britânica de biotecnologia Oxitec Ltd. Por sua vez, o presidente do não governamental Centro para o Meio Ambiente, a Tecnologia e o Desenvolvimento, Gurmit Singh, alertou que, “uma vez libertados esses mosquitos transgênicos no meio ambiente, perde-se o controle e podem surgir mais problemas do que soluções”.

Em meios independentes da Malásia, especialmente fóruns e salas de bate-papo na Internet, existe intenso debate sobre esta iniciativa, que contrasta com o silêncio de rádios e canais de TV controlados pelo Estado. O experimento “pode abrir uma caixa de Pandora. Pode fugir ao controle. As condições dos laboratórios não podem suplantar as da natureza”, alertou um comentarista conhecido por uma comunidade da Internet como “Flyer168”. O “governo pode garantir a segurança dos cidadãos?”, questionou.

O ministro da Saúde, Liow Tiong Lai, anunciou, no início deste mês, que o experimento com mosquitos transgênicos “em nível clínico” teve “grande sucesso”, e afirmou que o governo aguarda informes independentes do Comitê Assessor sobre Modificação Genética e da Junta Nacional de Biossegurança antes de autorizar a liberação dos mosquitos “exterminadores”.

“Se o Comitê e a Junta aprovarem o projeto, a decisão final caberá ao gabinete”, afirmou Liow ao jornal The Star, no dia 10. O Ministério da Saúde, que supervisiona a iniciativa, tem medidas “muito rigorosas” para garantir a segurança pública, ressaltou. Se a resposta dos dois órgãos for favorável, os mosquitos transgênicos poderão ser soltos em áreas isoladas do Estado de Pahang, informaram fontes do Ministério.

A dengue prevalece em áreas tropicais. Os casos são muitas vezes confundidos com febres comuns, e a falta de diagnóstico e tratamento a tempo podem ser fatais. As campanhas públicas em muitos países asiáticos exortam as pessoas a evitarem água parada e realizar exames médicos diante do menor sintoma. A Organização Mundial da Saúde, que identificou a dengue como um grave problema internacional, estima que 50 milhões de pessoas são infectadas por ano, com 22 mil mortes, a maioria de crianças.

Em março, a Academia Nacional de Ciências (NAS) dos Estados Unidos publicou um estudo sugerindo que os mosquitos geneticamente modificados poderiam ajudar a combater a dengue. Embora o Ministério da Saúde da Malásia destaque os benefícios do projeto e cite estudos internacionais como os da NAS, as dúvidas persistem, sobretudo diante de experiências passadas.

Por exemplo, um plano, de dezembro do ano passado, para liberar mosquitos transgênicos na Ilha de Pulau Ketam, diante da cidade de Port Klang, 30 quilômetros ao sul da capital, foi abortado devido à oposição de 30 mil ilhéus, em sua maioria pescadores. Junto a ativistas e líderes locais, organizaram protestos e escreveram uma carta ao Ministério da Saúde exigindo que não usasse a Ilha como laboratório.

“Somos veementemente contra este experimento”, disse o morador Liew Kam na carta. “Pode nos expor, e aos nossos filhos, a riscos maiores”, afirmou. Liew se queixou de que a população não foi informada do plano, e muito menos consultada. Os testes foram cancelados depois que todos os ilhéus começaram a protestar e ameaçaram votar na oposição, disse Tee Boon Hock, conselheiro de Pulau Ketam.

(Por Baradan Kuppusamy, IPS, Envolverde, 22/9/2010)


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