Uma proposta praticamente inédita no Brasil surge por parte de entidades ligadas à área de reciclagem de lixo, com o objetivo de encontrar um caminho para acabar de vez com os aterros sanitários, colaborar para a sustentabilidade e preservar o meio ambiente.
Baseados nos modelos aplicados há mais de 20 anos em países como Estados Unidos, Japão e da União Europeia, empresários da cadeia produtiva do plástico irão apresentar a instituições públicas e privadas, políticos, governantes, estudantes e profissionais do setor as tecnologias já disponíveis e as vantagens da implementação de unidades de reciclagem energética de resíduos sólidos a fim de produzir energia elétrica a partir do lixo urbano.
A ideia será explanada durante o 1º Fórum de Reciclagem Energética com Ênfase em Plástico, que acontece amanhã, no Plenário Mercosul do prédio da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).
O evento, promovido pelo Comitê de Reciclagem do Sindicato das Indústrias de Material Plástico no Estado do Rio Grande do Sul (Sinplast-RS) em parceria com o Instituto Plastivida, irá traçar um panorama da gestão de resíduos sólidos no Brasil e no restante do mundo, abordará fatores de influência na tomada de decisão para destinação de resíduos, e fará um aparato sobre reciclagem energética dos plásticos - além, é claro, de apresentar as formas de integração da recuperação energética na gestão dos resíduos sólidos. O objetivo do grupo é incentivar a criação de unidades de reciclagem energética, já presentes em 35 países.
Processo praticado nos Estados Unidos, Japão, China, Coreia do Sul, Malásia, Itália, França, Suíça, entre outros, a reciclagem energética é uma alternativa no gerenciamento do lixo urbano. A tecnologia consiste em transformar os dejetos em energia elétrica e térmica, através de processo que aproveita o poder calorífico contido nos plásticos para uso como combustível. Segundo Luiz Hartmann, coordenador do Comitê de Reciclagem do Sinplast-RS, países que adotam este procedimento, além de criarem novas matrizes energéticas, conseguem reduzir o volume de seus resíduos.
Hartmann enumera as vantagens que o investimento proporciona a municípios que adotam a ideia: soluciona o problema de lixões e aterros sanitários que não atendem às necessidades dos centros urbanos, traça um destino final para o lixo não reciclado, reduz a emissão de gases dos aterros, preserva rios, permite a recuperação energética de plásticos que estariam inutilizados em aterros, e reduz custos de coleta de transporte de lixo para aterros distantes. Além disso, destaca que, das 850 usinas de reciclagem energética em funcionamento no mundo, somente nos Estados Unidos estas unidades suprem 2,3 milhões de residências com energia elétrica. Ele garante que esse processo tem dado resultados tão positivos do ponto de vista econômico e ambiental que a Alemanha, por exemplo, aboliu os aterros do país.
Brasil aproveita apenas 30% dos resíduos coletados
Outro exemplo de iniciativa de reaproveitamento dos resíduos que obteve sucesso é o Centro Tecnológico Usinaverde, no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em Ilha do Fundão (RJ). Única unidade de reciclagem energética existente no Brasil, o espaço criado inicialmente para suprir a necessidade do campus universitário hoje vende energia.
"Na verdade, com exceção deste projeto universitário, aqui no Brasil se aproveita cerca de 30% do material que vai para reciclagem. Para se ter uma ideia, as prefeituras gastam duas vezes com a coleta de um mesmo resíduo, uma vez que, depois de passar pelas triagens, o que não é aproveitado é novamente descartado, e posteriormente destinado a um aterro", alerta o coordenador do Comitê de Reciclagem do Sinplast, Luiz Hartmann.
Ele reforça que, ao contrário do que vem ocorrendo no País, todo o resíduo sólido urbano que não passa pela reciclagem mecânica pode ser aproveitado, assim como pode ser aditivado pelo plástico que não tenha condições de ser reciclado mecanicamente pós-triagem da coleta seletiva, para geração de energia. "O volume de lixo produzido por 600 mil pessoas gera energia equivalente para abastecer até 150 mil habitantes de uma cidade".
Parcerias são alternativa para projetos
No mundo inteiro, um dos principais problemas que ameaçam a sustentabilidade, as cidades e o meio ambiente é o lixo urbano. No Brasil, esses dejetos são produzidos em grande quantidade, sendo que a maior parte é queimada a céu aberto, jogada em aterros sanitários irregulares e enviada para lixões. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o País gera 62 milhões toneladas/ano de lixo. Deste total, 51 milhões toneladas/ano são coletadas. Do lixo urbano coletado, cerca de 70% vão para aterros sanitários e 30% para lixões. Apenas 7% dos municípios possuem coleta seletiva, segundo pesquisa Ciclosoft 2008 do Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre).
Diante disso, a reciclagem energética do lixo urbano se consolida como solução ideal, na opinião Luiz Hartmann, coordenador do Comitê de Reciclagem do Sinplast-RS. "É uma iniciativa que vai depender de parcerias entre governos e entidades ligadas à limpeza urbana e reciclagem, e também do apoio de instituições como o Ministério do Meio Ambiente e até do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes)", sugere.
Hartmann explica como um projeto deste funcionaria em uma cidade gaúcha: "Cria-se uma unidade de reciclagem, cujo cliente seria o município. Ao invés de pagar para o lixo ser enviado para um aterro, a prefeitura do município pagaria para a geração de energia elétrica". Ele salienta que este não é um negócio com fins lucrativos, mas que promoveria uma redução de danos ambientais significativa. O preço para se erguer uma estrutura que atendesse a 200 mil toneladas/ano, gerando 150 megawattz, estaria estimado em cerca R$ 250 milhões. "A unidade se pagaria em uma média de 20 anos", calcula. Em uma cidade como Porto Alegre, o lixo aproveitado desta forma iria gerar energia suficiente para atender a 400 mil habitantes.
(Por Adriana Lampert, JC-RS, 22/09/2010)