Criada em 2004, a data registra a luta de grupos que lutam para deter a expansão de monoculturas. Uma farta documentação produzida pela ONG WRM, em referência ao Dia Internacional Contra as Plantações de Monocultura de Árvores, foi publicada nesta terça-feira (21). Entre as comunidades mais atingidas pela atividade, estão quilombolas, índios e camponeses, tal como é registrado no norte do Espírito Santo, após a construção da ex-Aracruz Celulose (Fibria).
O dia, geralmente marcado por manifestações, este ano conta no Estado apenas com atos via internet através do Facebook ou Twitter, nos quais uma cadeia de mensagens vem se formando desde o início do mês, debatendo e denunciando atrocidades consequentes da produção de celulose no País.
Destinada a fortalecer a luta contra o avanço dos "desertos verdes" de árvores, a jornada contra a monocultura, segundo a WRM, visa a denunciar os impactos deste modelo sobre as vidas de milhões de pessoas por eles afetadas, assim como a contaminação de solos e água e os impactos na flora e fauna, mas, sobretudo a ocupação dos territórios dos povos tradicionais, privando-os do meio de vida tradicional que até então tinham em seus territórios ancestrais.
Expulsas de suas terras após promessas de paz, empregos, riqueza e desenvolvimento, cumprida esta fase a história no Estado do Espírito Santo mostra que o primeiro passo é a destruição da flora para o plantio do eucalipto.
“Em grande parte dos casos, o resultado final é a violação de um amplíssimo conjunto de direitos humanos, que nos casos mais graves chega ao encarceramento, à tortura e inclusive ao assassinato”, diz a ONG.
Segundo a entidade, a monocultura de árvores constitui uma guerra contra povos e natureza que merecem ser homenageados por sua resistência e bravura.
“Hoje, como há mais de 500 anos, o colonialismo continua em vigor, com outras formas, com outros nomes. Os navios que ontem partiam dos portos latino-americanos com a prata, o ouro, o cacau, a borracha, hoje são enormes cargueiros que levam embora nossa água e nosso solo nas toras, as lascas, a celulose, o óleo de dendê”.
Só no Espírito Santo, a ex-Aracruz Celulose (Fibria), que detém 30% do mercado mundial de celulose (5,4 milhões de toneladas/ano), ocupa 290 mil hectares de terra, sendo 10 mil em áreas de pequenos proprietários de terras; pelo menos 40 mil hectares de terras indígenas e 50 mil hectares de terras de remanescentes quilombolas.
Dos cerca de 40 mil hectares de terras indígenas ocupados, boa parte contou com a ajuda do major PM Orlando Cavalcante (membro do Sindicato do Crime). Durante os 40 anos de exploração, além de exaurir a terra, a transnacional deixou os indígenas sem meios de subsistência, ilhados entre eucaliptais e rios contaminados por agrotóxicos.
E, mesmo diante de grande impacto ambiental e social, a empresa deverá ampliar sua produção, mas afirma que só divulgará as terras onde serão plantados os eucaliptos após a posse do novo governador do Estado. A previsão é que uma quarta usina de celulose seja construída até 2020.
Além das terras capixabas, a transnacional também busca ampliar o monocultivo do eucalipto na Bahia e no Rio Grande do Sul (60 mil hectares já plantados), estados nos quais suas fábricas serão duplicadas.
E é no contexto da expansão desse capital acumulado que a globalização é configurada como uma plataforma ideal para a apropriação e a mercantilização crescente da natureza por parte de grupos empresariais cada vez mais concentrados.
Conforme a FAO, entre 2000 e 2005 a superfície de plantações florestais cresceu uns 2,8 milhões de hectares anuais e os dados de 2009 apontam que na América Latina e no Caribe há 12,5 milhões de hectares de monoculturas florestais – categoria que não inclui o dendezeiro. Para 2020, planeja-se um aumento que levaria as plantações florestais a 17,3 milhões de hectares.
Em todo o País, 65% das plantações são de monoculturas.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 21/09/2010)