A produção conjunta de etanol e biodiesel, proposta por pesquisadores da USP, tem potencial para reduzir as emissões de gás carbônico (CO2) e melhorar o balanço energético, produzindo mais combustível a partir de uma quantidade menor de insumos. O modelo sugerido combina a produção de álcool de cana e biocombustível de óleo de dendê na região do Cerrado brasileiro.
[Leia na íntegra]“O processo produtivo do etanol utiliza insumos que estão associados às emissões de CO2, como o óleo diesel, derivado do petróleo, que movimenta tratores e caminhões”, diz o professor Sérgio Almeida Pacca, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, que orientou a pesquisa. “O trabalho buscou uma alternativa para substituir o diesel que pudesse minimizar as emissões.”
O combustível escolhido foi o biodiesel produzido a partir do óleo de dendê. “Ele apresenta uma produtividade maior por hectare do que outras espécies vegetais empregadas na fabricação do combustível, como a soja, o girassol e a colza (canola)”, ressalta o professor. Ao mesmo tempo, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolve uma variedade de dendê que se adapte às condições climáticas do Cerrado, onde as experiências com o cultivo de cana adaptada já são bem sucedidas.
O processo integrado de produção foi comparado ao sistema tradicional, a partir da avaliação do ciclo de vida de ambos os métodos, para se buscar sinergias entre o álcool e o biodiesel. “A produção de etanol a partir da cana gera o bagaço, um resíduo que pode ser usado na geração de energia para o próprio processo produtivo, ou na obtenção de eletricidade”, conta Pacca. “Da mesma forma, a extração de óleo de dendê gera resíduos, como fibras e cascas de castanha, igualmente utilizáveis na geração de eletricidade.”
Irrigação
Outra integração proposta na pesquisa está no aproveitamento da vinhaça, um subproduto da produção do etanol, na irrigação de cultivos. “No cerrado, devido ao clima, o dendê precisa ser irrigado artificialmente”, observa o professor da EACH. “A vinhaça de cana de açúcar contém água e micronutrientes, como o potássio, e o efluente da produção do biodiesel de dendê pode ser adicionado a ela.”
O sistema de produção conjunto permite minimizar a necessidade de alguns insumos, em especial combustíveis fósseis, e ao mesmo tempo promover a reciclagem de subprodutos. “O cálculo do balanço de emissões revelou uma produção menor de CO2”, ressalta Pacca. A estimativa do balanço energético mostra que o investimento em insumos é menor, sem prejudicar o aumento da produção de energia.
“O modelo ainda é teórico, mas foi elaborado a partir de dados extraídos de sistemas produtivos reais”, aponta o professor. Durante a pesquisa foram visitadas usinas de álcool e biodiesel para o levantamento de coeficientes de produção, além de plantios de cana e dendê, a fim de verificar suas necessidades e a utilização de insumos.
A escolha do Cerrado para a implantação da produção integrada se deve à presença de algumas características das florestas tropicais, de onde o dendê é nativo. “Apenas a demanda hídrica é maior do que a disponibilidade da região”, afirma Pacca. “A cana-de-açúcar se adaptou bem ao Cerrado e o próprio etanol produzido localmente pode ser usado na reação de transesterificação que dá origem ao biodiesel.” A pesquisa faz parte da dissertação de mestrado de Simone Pereira de Souza, apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ciências de Engenharia Ambiental, do Centro de Recursos Hídricos e Ecologia Aplicada (CRHEA), ligado à Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP.
Mais informações: spacca{at}usp.br
(Por Júlio Bernardes, Agência USP de Notícias, EcoDebate, 21/09/2010)