O prefeito de Porto Alegre, José Fortunatti, entregou nesta terça-feira, dia 21 de setembro, em ato festivo no Paço Municipal, a Cartilha de Monumentos Inseridos em Praças e Parques de Porto Alegre, produzida pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente. O material, necessário e fruto de iniciativa meritória, foi feito para distribuição em escolas com o objetivo de contribuir para a educação ambiental e patrimonial. Mas, o resultado nada mais é que um amontoado de informações incompletas, incorretas, redigidas com erros gritantes de português e sem qualquer critério histórico ou artístico para a escolha das obras destacadas.
A cartilha, que utiliza recursos do Fundo Pró-Defesa do Meio Ambiente, sem dúvida terá o mesmo destino de outra publicação, também produzida pela SMAM, sobre parques e jardins, que apresentava os mesmos vícios desta e acabou sendo recolhido, e hoje repousa em algum canto esquecido. A irresponsabilidade se repete, ao editar, com dinheiro público, obra sem qualidade histórica, sem revisão técnica e ortográfica,feita de forma personalística por uma única pessoa que se arvora responsável pelo texto, pesquisa de campo e fotos. Dizer que se trata de “produção simples para escolas e turistas” não se sustenta, pois por mais simples que seja, nada justifica que um material institucional seja produzido com tal descuido.
Já no primeiro parágrafo é possível perceber a qualidade do texto: “Cabe agora a esse setor traçar metas e buscar parcerias com a iniciativa privada para manutenção e qualificação do patrimônio histórico cultural que são (sic) os monumentos”. Além do erro de português, há erro de conteúdo, pois monumentos, apesar de importantes, são apenas uma pequena parte de nosso patrimônio histórico e cultural, muito mais amplo.
Também não há qualquer justificativa para a seleção das obras “descritas”. O material está separado por parques e praças, com foto (mínima) de um monumento e algumas informações sobre este, sem qualquer padronização nas informações fornecidas; depois, são listadas outras obras, sem nenhuma informação. Há mesmo foto de obra “retirada do local para restauração e consertos” (p. 13) e texto de placa “já furtada” (p. 25), talvez sugerindo que este seja o destino previsto para as demais.
Sugerimos que o material seja aproveitado por professores de português, que poderão utilizá-lo em sala de aula em “jogos dos sete erros”, ou exercícios como “escreva de forma correta os textos da página...”. No caso, seria um trabalho bem diversificado, já que todas as páginas estão repletas de erros. Vírgulas são utilizadas de forma aleatória, separando com frequência sujeito e verbo; crases antecedem nomes próprios (p. 3), que aliás, muitas vezes estão grafados errados e em minúsculas (p. 10 – “Marechal do ar alberto santos Dumont / pai da aviação / patrono da força aérea brasileira”; p. 13 – Alfred Adloff; Johann Wolfgan Goethe – p. 22 – que na mesma página consta como Wolfgan e Volfang). Outras pérolas: todos os monumentos das pp. 10, 11, 15 estão “acentados” em bases variadas; adotante terá como contra partida (p. 6); e o Laçador, “localizado em frente ao Aeroporto Internacional Salgado Filho”, “teve como modelo ainda vivo o tradicionalista Paixão Cortes”. Quanto à acentuação, melhor nem citar, pois seria cansativo enumerar tantos erros.
Não se pode admitir que um órgão público produza com tal descaso uma obra direcionada a jovens e a turistas. A uns deseduca, a outros expõe uma ignorância que não nos faz justiça. A cidade e os estudantes de Porto Alegre não merecem ser tratados dessa forma. O conhecimento leva à proteção, e há muito precisamos trabalhar o respeito aos monumentos. Mas de forma séria, coerente e com pessoas que conheçam o assunto. Então, devido ao desperdício de recursos públicos e pelo respeito ao nosso patrimônio, estamos encaminhando o material ao Ministério Público para as devidas providências.
*Adeli Sell é vereador e presidente do PT/Porto Alegre
(Especial para o Ambiente JÁ, 21/09/2010)