Com um orçamento de US$ 1,5 bilhão para investimentos na nova empresa que está compondo com a Cosan, a Shell está confiante de que fará do Brasil sua plataforma de distribuição de biocombustíveis para o mundo. Além dos aportes na ampliação das atividades brasileiras, a companhia espera testar, no País, tecnologias de etanol de segunda geração que vêm sendo desenvolvidas pela Iogen Energy, que faz parte do acordo com a Cosan.
"No longo prazo, o objetivo é criar uma companhia global de biocombustíveis e penso que a joint venture (com a Cosan) tem potencial não só no Brasil, mas para ser um grande ator nesse mercado", disse o vice-presidente de estratégia, portfólio e energia alternativa do grupo Shell, Mark Gainsborough, que veio ao País participar da feira Rio Oil & Gas, na semana passada.
A joint venture com a Cosan foi anunciada em fevereiro e prevê a fusão dos ativos das duas companhias nos segmentos de distribuição de combustíveis e produção e pesquisa de novas tecnologias de etanol. Com valor estimado em US$ 12 bilhões, a companhia nasceu com 4,5 mil postos de combustíveis, além da maior capacidade para produção de etanol do País.
"O negócio (de distribuição de combustíveis) vai crescer nos próximos anos e estamos com uma posição bastante forte no mercado", disse Gainsborough. Ele disse esperar a aprovação da joint venture pelos órgãos de defesa da concorrência para os próximos meses, dando início ao processo de consolidação e investimentos da nova empresa. Já a partir do próximo ano, a rede de postos Esso, controlada pela Cosan, deve começar a receber a marca da Shell.
Exterior. O passo principal, porém, será dado em direção ao mercado externo. "Achamos que há um grande potencial para o etanol de cana-de-açúcar do Brasil. O mundo já percebeu que o Brasil criou, nos últimos anos, um mercado de biocombustíveis bastante competitivo", afirmou Gainsborough.
Ele reconhece, porém, que há um "grande trabalho" a ser feito em termos logísticos e políticos - neste caso, no sentido de romper barreiras comerciais e tarifárias impostas pelos países desenvolvidos. Mas acredita que a presença da Shell nos maiores mercados consumidores pode ajudar o esforço brasileiro pelo fim das barreiras.
No final do ano, os Estados Unidos decidem pela renovação ou não dos subsídios concedidos aos produtores locais. "Nossa percepção é que muitos formuladores de políticas começam a reconsiderar a questão das tarifas de importação", disse. "Manter as tarifas não faz muito sentido quando se fala em sustentabilidade."
O executivo evitou dar maiores detalhes sobre os primeiros movimentos da nova empresa com a Cosan, mas disse que uma das possibilidades futuras é intensificar a pesquisa com biocombustíveis de segunda geração também no Brasil.
"Combinar a expertise operacional da Cosan com a expertise da Shell em pesquisa é uma forma de acelerar o desenvolvimento dos biocombustíveis", disse o executivo. A Shell tem hoje quatro centros de pesquisa relacionados aos biocombustíveis ao redor do mundo. Já os investimentos em pesquisa da Cosan são mais voltados à produção agrícola.
Para Gainsborough, a chegada dos biocombustíveis de celulose aos mercado europeu e americano abrirá portas para o etanol brasileiro. "É preciso ter acesso ao biocombustível de celulose para que as pessoas se acostumem com isso."
PARA ENTENDER
Biocombustível pode ter 10% do mercado global
A Shell acredita que os biocombustíveis serão responsáveis por até 10% do mercado mundial de combustíveis de transporte no início da próxima década e, por isso, vem apostando forte em parcerias para desenvolver novas tecnologias e mercados para o produto.
Anunciada em fevereiro, a joint venture com a Cosan foi um importante passo nesse sentido, garantindo à multinacional participação em unidades produtoras de etanol com capacidade total para 2 bilhões de litros por ano.
No fim de agosto, as duas companhias assinaram acordo vinculante reforçando a parceria e se comprometendo a concentrar esforços para aprovar o quanto antes a operação nos órgãos de defesa da concorrência.
Acordo
MARK GAINSBOROUGH: "Acho que a parceria com a Cosan tem potencial não só no Brasil"
EXECUTIVO DA SHELL
(Por Nicola Pamplona, O Estado de S.Paulo, 21/09/2010)