Ameaça real e imediata. Uma situação factual do cotidiano deu início a um inédito projeto de educação ambiental e jornalismo. O anúncio, em 2008, pela imprensa de que os governos do Brasil e Argentina uniriam esforços para construir hidrelétricas no Rio Uruguai, o complexo de Garabi, despertou a curiosidade do professor e jornalista Carlos Dominguez. A possibilidade de a nova usina deixar o Salto do Yucumã e o Parque Estadual do Turvo submersos levou o professor e mais quatro alunos a conhecer a realidade e praticar a educação ambiental aplicada ao jornalismo.
Por mais de dois anos a equipe do Curso de Jornalismo do Centro de Educação Superior Norte – RS (Cesnors/UFSM) desenvolveu o projeto Diversidade Ambiental: Ribeirinhos do Rio Uruguai e moradores do entorno do Parque Estadual do Turvo. Neste período, utilizando técnicas jornalísticas foram realizadas gravações com os moradores do entorno do parque, no município de Derrubadas, sede do maior parque estadual gaúcho e último lar da onça pintada no Rio Grande do Sul. Além do registro em vídeo das histórias de vida e manifestações culturais típicas no contato com a terra e a mata foi trabalhado o discurso ambiental, em especial com a questão de viver próxima a uma área de preservação e as contradições que este fato gera.
O material recolhido resultou em um vídeo-documentário no estilo grande reportagem de telejornalismo com 30min mostrando a opinião de moradores e autoridades locais sobre o problema que a criação da usina teria para a população de Derrubadas. Este vídeo, num segundo momento, foi levado para a rede escolar municipal, onde alunos da primeira a oitava série assistiram a uma palestra, a reportagem, olharam fotografias e, ao final, realizaram um plantio de mudas nativas.
Além do trabalho de campo, no mesmo período de tempo, foi sendo recolhido material na mídia impressa e sites de veículos de comunicação que tratavam do tema Usina de Garabi. Ali estão sendo analisados os fluxos dos discursos ambientais por meio da análise do discurso.
Como resultado parcial do trabalho de extensão junto a população foi possível verificar, de acordo com os acadêmicos Clarissa Hermes, Letícia Sangaletti, Lucas Wirti e Mariana Correa, uma grande desinformação sobre a questão da barragem e o possível alagamento do Salto do Yucumã. Já no lado argentino, na localidade de El Soberbo, foi verificado junto aos depoimentos recolhidos a existências de mais informações sobre Garabi e os efeitos da usina sobre o ambiente local. É interessante destacar que tal fato se deve a somente a população argentina explorar turisticamente o potencial do Salto do Yucumã com, hotéis, pousadas e passeios de barco. No lado brasileiro não há exploração turística significativa.
Esta população, de aproximadamente 5 mil pessoas moram no entorno do parque. Geograficamente, o Rio Uruguai divide uma grande área binacional de preservação de floresta subdecidual de aproximadamente 80 mil hectares, sendo 17 mil hectares no Brasil e o restante na Argentina, no parque provincial de Moconã. Exatamente no centro desta área encontra-se o Salto do Yucumã (Salto del Moconã em espanhol), a maior queda d'água longitudinal do mundo, com 1,8 quilômetros de extensão. O local, além da inigualável beleza paisagística, o local é um dos últimos habitats de inúmeras espécies da fauna e flora, além de inquestionável biodiversidade.
Tudo isto está ameaçado de começar a não mais existir a partir de 2012, data prevista para começarem as obras do empreendimento binacional. Felizmente, já existe um movimento na sociedade civil pro-Yucumã. Acompanhe mais sobre o assunto no blog http://salveosaltodoyucuma.blogspot.br
(Por Projeto Ribeirinhos Rio Uruguai, EcoAgência, 20/09/2010)