Mesfin Mengistu cultiva árvores no norte da Etiópia para aumentar sua renda, não tanto por consciência ambiental. Contudo, a atividade é necessária devido ao grande desmatamento registrado neste país africano. “Entendo que plantar árvores ajuda a manter o equilíbrio ambiental, mas faço isso para aumentar minha renda e cobrir o crescente custo dos fertilizantes”, disse Mesfin.
Suas principais fontes de renda procedem do trigo e do milho, que cultiva em sua terra, 45 quilômetros a oeste da capital do país. Em 2009, ganhou US$ 730 plantando árvores, quantia com a qual muitas famílias gostariam de viver. Para cortar as árvores, Mesfin necessita da aprovação das autoridades locais, que garantem que sejam cultivadas novas para substituir as cortadas. Este ano foram plantadas 600 mudas.
A conservação de árvores é um motivo de preocupação na Etiópia. O desmatamento reduziu drasticamente as florestas, de 35% de seus 1,1 milhão de quilômetros quadrados passou para apenas 3% em 2000. O Ministério da Agricultura anunciou em julho que as florestas aumentaram 9% graças às campanhas de reflorestamento em grande escala. São plantadas entre um bilhão e dois bilhões de mudas por ano.
Governo e ambientalistas concordam que houve uma grande mudança de atitude na população na década da campanha de reflorestamento. Mas os observadores são céticos quanto a ter triplicado a superfície de florestas nos últimos dez anos.
É difícil estimar as perdas por falta de dados adequados. Perde-se 146 mil hectares ao ano, segundo a Avaliação de Florestas Tropicais e de Biodiversidade da Etiópia, realizada pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), em 2008. Essa quantidade não condiz com a estimativa do Ministério da Agricultura, segundo a qual são plantadas 650 mil mudas ao ano, pois estas ainda não se transformaram em floresta.
A maior atenção do governo em questões ambientais e a crescente consciência da população resultaram em aumento da área florestal de Menagesha, disse Garuma Geleta, diretor do Departamento de Conservação do Solo e da Água, do Escritório de Agricultura desse distrito. “São realizadas palestras para conscientizar sobre a importância das florestas, mas ainda há quem corte árvores velhas e grandes para ter combustível, fazer carvão, entre outros usos”, disse Garuma à IPS.
Nas últimas duas décadas foram recuperadas muitas áreas da Etiópia. Os melhores exemplos estão na região de Tigray, seguida de Amhara, no norte do país, onde a agricultura e vários anos de guerra civil dizimaram as florestas. “A tendência na Etiópia continua sendo o desmatamento”, disse Million Belay, diretor de uma organização não governamental dedicada a preservar a biodiversidade.
As florestas que restam na Etiópia estão no centro, sul e oeste do país. Na região de Oromia, a cobertura florestal diminui devido ao crescimento populacional, às técnicas agrícolas que não são sustentáveis e à competição pela terra. “A situação em que se encontram as florestas deveria ser considerada de risco”, diz o informe da Usaid.
O corte para atender a demanda de combustível e lenha supera os esforços de reflorestamento, segundo essa agência. As leis aprovadas para controlar essas atividades não são seguidas de forma adequada. Essa região também abriga a maior quantidade do gado do país. Além disso, os parques nacionais e as áreas de conservação não são protegidas como deveriam ser.
(Por Omer Redi, IPS, Envolverde, 20/9/2010)