O geneticista chinês Du Yutao observa o ultra-som da barriga de uma leitoa grávida - uma das mais recentes ferramentas genéticas da China para alimentar melhor uma população que deve chegar a 1,44 bilhões até 2030, de acordo com dados do Banco Mundial. As cerca de 20 fêmeas da fazenda na província de Guangdong, no sul da China, não são animais comuns, mas sim "barrigas de aluguel" carregando filhotes clonados.
A equipe de Du está clonando porcos num laboratório a uma hora de carro da fazenda. Os pesquisadores removem DNA da pele de da orelha de um macho premiado e o transferem para um óvulo de leitoa do qual o material genético foi eliminado. Os embriões resultantes são implantados em "barrigas de aluguel".
"Atualmente nós importamos reprodutores valiosos da Dinamarca e os Estados Unidos. Eles são caros para comprar, transportar e suscetíveis a uma série de doenças durante o transporte", disse Du, chefe de clonagem e engenharia genética no instituto de Genômica de Pequim.
"Com essa tecnologia, podemos importar menos porcos e produzi-los em massa na China".
Especialistas internacionais acreditam que a China poderá ter um papel fundamental na promoção e aceitação global de animais clonados, ou mesmo transgênicos, no mercado de alimentos.
Ingo Potrykus, coinventor do chamado "arroz dourado", enriquecido com vitamina A, disse que China pode preencher um vácuo, garantindo ampla utilização e aceitação.
No laboratório do instituto chinês, outro geneticista, Zhang Gengyun, trabalha com colegas em sementes de arroz, outro alimento fundamental para a China.
Eles querem identificar sequências genéticas do arroz que estão por trás de grandes safras e de sistemas de raiz melhores, para que cada vez mais arroz possa ser produzido com menos uso de terra e água.
"Atualmente, muito fertilizante é usado, e o arroz não assimila tudo. O fertilizante extra vai parar nos rios, danificando o meio ambiente", disse Zhang.
A China tem poucas ferramentas convencionais à mão, tendo de alimentar 22% da população mundial com apenas 7% da terra arável.
Seus recursos hídricos também são poucos, com 25% da água tão poluída que é inútil até mesmo para uso industrial.
(Estadão, 17/09/2010)