As empresas brasileiras ainda seguem um paradigma em que a sustentabilidade está relacionada apenas com práticas ecológicas, quando na realidade o tema abrange outras áreas. Essa percepção foi apresentada nesta quinta-feira pelo vice-presidente-executivo do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, durante o primeiro Fórum de Desenvolvimento Sustentável Aplicado aos Negócios, em Porto Alegre. "Precisamos de uma economia que não seja apenas verde, mas também seja inclusiva e com alto padrão ético", afirmou.
Itacarambi lembrou que a sociedade já demanda produtos e serviços sustentáveis e só vai liderar o mercado do futuro quem investir e inovar nessa área. "Não é sequer uma questão se esse investimento dará retorno ou não. A questão é que não há outro caminho a seguir. Quem não se preocupar com esses temas simplesmente deixará de existir", alertou.
Uma das provas que a preocupação com essas práticas pode gerar bons negócios foi apresentada pelo superintendente de sustentabilidade do Grupo Camargo Correa, Ciro Fleury. A companhia, juntamente com a incorporadora norte-americana Tishman Speyer, investiu cerca de R$ 500 milhões na construção do Ventura Towers, complexo de escritórios de alto padrão no Rio de Janeiro que apresenta características ecológicas. Suas duas torres, com 36 andares cada uma, totalizam 170 mil metros quadrados de área construída.
A resposta do mercado ao lançamento foi imediata. O primeiro edifício do complexo, vendido para um fundo de investimento internacional no início de 2008 por R$ 422 milhões, foi entregue em setembro do mesmo ano totalmente alugado para grandes empresas e instituições brasileiras.
No entanto, existem dificuldades para que as organizações possam implantar políticas de sustentabilidade. Segundo Iuri Gavronski, professor de Administração da Unisinos, há uma carência muito grande de profissionais que tenham uma visão ampla da questão, integrando diversas áreas e que possam incorporar esse pensamento nas práticas de suas empresas.
Para Ana Lúcia Maciel, diretora de Responsabilidade Social da ABRH-RS, as empresas devem buscar investir na formação de seus funcionários e colaboradores para que eles atendam a essas novas demandas do mercado. "Especialmente os profissionais de recursos humanos, que geralmente são mais sensíveis às demandas de fora das organizações, precisam estar preparados para essas necessidades, a fim de provocar os primeiros passos para que as empresas incorporem a agenda da sustentabilidade."
(JC-RS, 17/09/2010)