Mesmo com as recentes quedas de preços da celulose de fibra curta anunciadas no mundo, e adotadas no Brasil pela Fibria e pela Suzano, a expansão da capacidade instalada no País segue, e deverá alcançar 20 milhões de toneladas com 10 novas fábricas na próxima década, a uma média de uma nova planta inaugurada a cada ano. Esse volume representará um crescimento de 48% da produção de 13,5 milhões de toneladas registrada em 2009. Somados, a expectativa do setor é de que esses projetos deverão consumir cerca de US$ 20 bilhões.
De acordo com o índice Foex, o preço da celulose de fibra curta para o mercado europeu esta semana ficou em US$ 870 por tonelada, e em US$ 787,46 para o produto vendido à China. Esses valores ainda estão próximos ao recorde de US$ 1 mil na Europa.
Para Carlos Farinha e Silva, vice-presidente da consultoria finlandesa Pöyry e membro do conselho da Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel (ABTCP), essa expansão da produção brasileira tem na China o grande mercado consumidor, com as grandes máquinas que estão entrando em operação. Ele aponta o baixo custo de produção por hectare como uma das vantagens do setor no Brasil. "Hoje o custo de produção no Brasil é muito baixo. Sem considerarmos o custo de capital, a commodity nacional chega a US$ 220 por tonelada", disse ele, que destacou a produtividade nacional como fator fundamental para o alcance desses índices de custo.
Segundo dados da Associação Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa), a produtividade em 2009 ficou em 44,2 metros cúbicos de madeira por hectare ao ano para florestas de eucalipto, e em 37,9 metros cúbicos para pínus. Esses índices representaram crescimento de 84% e de 99% em comparação a 1980.
Na visão de Farinha e Silva, porém, a produtividade tem potencial para ser elevada. Para as florestas de eucalipto ele estimou que poderá alcançar 80 metros cúbicos por hectare plantado. Para chegar a esse nível, explicou ele, há necessidade aperfeiçoar geneticamente a espécie de árvore mais indicada para cada região no Brasil.
Além disso, há ainda a otimização dos projetos industriais que podem aproveitar melhor os recursos disponíveis.
Investimentos
Um exemplo desses melhoramentos industriais foi divulgado recentemente pela Suzano Papel e Celulose. A empresa estimava produção de 1,3 milhão de toneladas da commodity nas futuras unidades do Maranhão e do Piauí, mas esse volume foi aumentado para 1,5 milhão de toneladas em cada planta. Dessa forma, a empresa elevará a previsão de produção no que o presidente da companhia, Antônio Maciel Neto, chamou de "novo ciclo de crescimento" para 6,45 milhões de toneladas de celulose ante 1,75 milhão de toneladas produzidas atualmente. Nessas duas novas fábricas o investimento soma US$ 4,6 bilhões. Porém, a aprovação do investimento industrial para essas plantas será submetida ao Conselho de Administração apenas no primeiro semestre de 2011 e de 2012, respectivamente.
Outra empresa que trabalha em um ciclo semelhante é a Fibria. A empresa, que há um ano foi formada da união entre a Votorantim Celulose e Papel (VCP) e a Aracruz Celulose, anunciou recentemente a expansão da base florestal para a segunda fábrica de Três Lagoas (MS), que deverá ser antecipada de 2016 para 2014. A custo estimado de US$ 3,3 bilhões (ao câmbio de R$ 1,75), essa unidade somará 1,5 milhão de toneladas de celulose à produção atual de 1,3 milhão de toneladas da primeira unidade. Este é o maior investimento em uma unidade da empresa, que ainda deverá expandir a Veracel, joint venture com a Stora Enso. Segundo Carlos Aguiar, presidente da Fibria, essa decisão ainda depende de acordo entre as duas sócias.
Além disso, o executivo da Pöyry cita unidades da chilena CMPC, da Klabin, da Cenibra e da Eldorado Celulose. Esta última é uma nova empresa do setor, formada da parceria entre a JBS e a MCL Empreendimentos, e deverá iniciar a operação em 2012.
A instalação de fábricas de celulose afastadas do litoral era impensável no passado em razão do peso do frete no custo final do produto. Com o aumento da produtividade, porém, aliado ao custo de aquisição de terras, o rumo ao centro-oeste e norte do País deverá ser acentuado. Segundo Farinha e Silva, o Estado de Tocantins deverá ser a nova fronteira das florestas de celulose no Brasil. "Por lá temos as terras degradadas e a ferrovia de Carajás, que poderá ser utilizada para escoar a produção", apontou ele, que concluiu ao afirmar que o transporte fluvial também será um fator favorável à atividade.
(DCI, 17/09/2010)