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crise da água escassez de água
2010-09-15 | Tatianaf

Em seu meio século de vida no leste do Quênia, o agricultor Peter Kivuti nunca confiou nas previsões meteorológicas. Mas mudou de opinião há três anos, quando as chuvas na região começaram a ser menos previsíveis. Como outros agricultores da aldeia de Rwanguondu, Peter se baseava nos métodos tradicionais de previsão do tempo usados há séculos por seus antepassados.

“Desde que eu era muito garoto que chove muito no dia 25 de março de cada ano. Isto significava que todas as fazendas tinham que estar preparadas com tudo que era necessário para plantar no dia 26”, recordou Peter. Esta tendência foi observada em todo o distrito de Embu por séculos, até três anos atrás, quando os padrões de chuva começaram a variar.

Em 2007, as precipitações chegaram no dia 20 de março, cinco dias antes do esperado, fazendo muitos produtores perderam suas semeaduras. “Estávamos totalmente desorientados. Pelo tempo que plantamos era muito tarde. A chuva acabou antes que nossas plantações estivessem resistentes, o que causou perdas naquele ano”, disse o agricultor.

Um novo informe, publicado no dia 6, pelo Instituto Internacional para o Manejo da Água (IWMI), com sede no Sri Lanka, alertou que as mudanças no tempo e as condições climáticas podem inclusive piorar. O documento afirma que as chuvas irregulares relacionadas com a mudança climática ameaçam ainda mais a segurança alimentar e as economias de muitos países, particularmente na África e na Ásia.

Por sua vez, a Agricultural Market Development Trust, uma organização que trabalha com fazendeiros do Quênia, aconselhou os agricultores a se prepararem para plantar antes devido às mudanças nos padrões de chuva, e, segundo informe do IWMI, isto não pode ser uma solução de longo prazo. A solução – diz o documento – é que países, organizações e indivíduos aumentem seus investimentos nas diversas formas de armazenamento de água.

“Assim como os investidores modernos diversificam suas participações financeiras para reduzir riscos, os pequenos agricultores precisam de uma ampla gama de contas de água para amortizar os impactos da mudança climática.”, disse Matthew McCartney, principal autor do informe, em uma nota de imprensa publicada junto com o relatório. “Dessa forma, se uma fonte de água seca, terão outras às quais recorrer”, acrescentou Matthew, também especialista em hidrologia do IWMI.

O IWMI é uma organização de pesquisa científica focada no uso sustentável dos recursos da água e da terra na agricultura, para o beneficio das pessoas em situação de pobreza em países em desenvolvimento. A entidade tem apoio do Grupo Consultivo para a Pesquisa Agrícola Internacional.

O informe aparece justo quando o Programa Mundial de Alimentos, das Nações Unidas, coloca em prática no Quênia um plano conhecido como Food for Assets (FFA), que tem camponeses de zonas áridas e semiáridas do país captando e armazenando água para uso doméstico e agrícola. A captação é feita quando chove. A água é dirigida a reservatórios e acumulada. Por meio do programa, os beneficiários são obrigados a fazer algum trabalho no sentido de aumentar a segurança alimentar de sua comunidade.

“Na Província Oriental, escolhemos a construção de represas como um projeto para atenuar a pobreza, porque a água sempre era o problema”, disse Jacobus Kiilu, da ActionAid Kenya, a organização que executa o FFA na região. Como resultado, os moradores ainda têm acesso à água que captaram nas fortes chuvas que caíram há mais de cinco meses. “Este é o período mais longo que ficamos com água de chuva graças às represas”, disse Mwende Kisilu, um dos beneficiados da aldeia Kyuso, leste do Quênia.

Na África subssaariana, segundo o informe do IWMI, até 94% dos agricultores dependem da agricultura de terra seca, ainda que as chuvas sejam altamente imprevisíveis na região. “A falta de previsão sobre quantidade e duração das chuvas faz com que essa agricultura seja extremamente difícil”, diz o texto.

Isto se deve ao fato de os agricultores terem dificuldade para escolher quando plantar. “Se você semeia antes do tempo, corre o risco de as sementes não germinarem no caso de as chuvas caírem. E, quando plantamos muito tarde em 2007, as chuvas minguaram antes que a semeadura amadurecesse, provocando perdas”, disse Peter.

Porém, se os governos, especialmente da África e Ásia, as organizações e os indivíduos tomarem medidas para aumentar o investimento em diversos métodos de armazenagem de água, estima-se que 500 milhões de pessoas na África e na Índia seriam beneficiadas por uma melhor gestão deste recurso na agricultura, diz o informe.

Embora governos de países em desenvolvimento com economias de rápido crescimento tenham investido fortemente em grandes represas na década atual, o estudo do IWMI diz que deve ser dada maior ênfase a colocar uma gama de opções de menor escala, bem planejadas para melhorar a segurança alimentar.

O documento cita evidência do Zimbábue, onde esses métodos aumentaram o rendimento do milho, com ou sem chuva. No Níger, também impulsionou em grande parte a produção de milho. No nordeste do Estado indiano de Rajasthan, a construção de aproximadamente dez mil estruturas de captação de água tornou possível irrigar cerca de 140 quilômetros quadrados de campos agrícolas, beneficiando aproximadamente 70 mil pessoas.

Entretanto, sem planejamento adequado das instalações de armazenamento de água, os benefícios obtidos podem facilmente se converter em um fardo. “Depósitos mal planejados não só desperdiçam dinheiro como pioram os efeitos negativos da mudança climática, por exemplo, gerando habitat para a reprodução de mosquitos transmissores da malária”, alerta o informe. Envolverde/IPS

(Por Isaiah Esipisu, IPS, Envolverde, 14/9/2010)


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