Começam a aparecer os primeiros sinais de que as regras para reduzir as emissões de gases do efeito estufa estão sendo fundamentais nas decisões estratégicas da iniciativa privada e dos governos no setor de geração elétrica
As novas regras sobre o carbono influenciam as decisões de investimentos em energia ao redor do mundo? Esta é uma pergunta que há tempos espera-se responder positivamente e os primeiros sinais desta transformação começam a aparecer
Na semana passada a RWE, gigante do setor energético europeu que possui cerca de 30% da fatia do mercado na Alemanha, anunciou que estava abandonando planos para a construção de uma usina a carvão para produção de 800 MW na Polônia.
A motivação, segundo informações da empresa obtidas pela Point Carbon, foram “as condições incertas do mercado e os requisitos da política européia, particularmente relacionados aos custos futuros das emissões de dióxido de carbono, que aumentam os riscos de investimento” para a geração a carvão.
A partir de 2013, o esquema de comércio de emissões da União Européia (EU ETS, em inglês) começará a leiloar grande parte das permissões de emissão para o setor de energia, que terá que arcar com custos superiores a € 8 bilhões.
“Antes do EU ETS, o impacto do carbono quase nunca era considerado nas decisões de investimento. Agora, como visto na decisão polonesa, é uma questão integral para consideração da diretoria e afeta todas as decisões de investimento”, comentaram os analistas da Barclays Capital em sua análise semanal.
Atualmente 13 GW de geração de energia com carvão estão sendo construídos na Europa Ocidental, porém todos os projetos foram iniciados antes ou no inicio da introdução de um preço sobre o carbono. Apenas 1,7 GW estão em estágio avançado de desenvolvimento e quase nenhuma empresa investirá nesta modalidade sem a associação com tecnologias de captura e armazenamento de carbono, segundo a BarCap.
Mercado norte-americano
Nos Estados Unidos, apesar da estagnação no processo legislativo federal, os estados estão introduzindo regras rígidas para aumentar a fatia de energias renováveis e alternativas, sendo que a energia eólica foi a maior fonte de nova eletricidade no país ano passado.
Em reportagem ao Climate Bizz, Mindy Lubber, presidente da coalizão de grupos ambientalistas e investidores Ceres, enfatizou que para cada nova usina à carvão construída nos Estados Unidos nos últimos anos, quatro propostas foram canceladas ou adiadas.
“A realidade é que o setor de energia norte-americano está passando por uma transformação dramática para descarbonizar as suas ofertas de energia e vender menos, não mais, eletricidade”, comentou Lubber.
O mês de agosto veio acompanhado de anúncios como da Exelon que comprou 735 MW de energia eólica, da GE Energy que construirá uma nova fazenda eólica de 183 MW em Idaho e da aprovação do primeiro projeto eólico em alto mar dos Estados Unidos, na costa de Massachusetts.
Austrália
Como maior exportador mundial de carvão, a Austrália não deixará de investir no carvão, porém está apostando as fichas na captura e estocagem do carbono. Na sua campanha, a primeira ministra Julia Gillard disse que fecharia as usinas ineficientes e criaria regras para que as novas instalações contassem com a tecnologia.
Porém, os próximos anos prometem muitas discussões, já que o Partido Verde é contra a expansão das minas existentes e especialmente da abertura de novas explorações.
Greg Combet, que recém assumiu o cargo de ministro de Mudanças Climáticas, disse ter três prioridades: energias renováveis, eficiência energética e a introdução de um preço sobre as emissões de dióxido de carbono.
Transição
O impacto das políticas direcionadas a um caminho onde o objetivo é alcançar uma economia mais limpa e com a menor pressão possível sobre os recursos naturais, começa a ser sentido por quem busca investimentos. A participação em índices, certificações e programas sócio-ambientais, passam a ser ferramentas importantes na garantia, através de auditorias independente, das ações das empresas na busca pela sustentabilidade.
Mesmo em um ambiente regulatório um tanto confuso em muitas partes do globo, as forças de mercado, como a melhoria da competitividade financeira das energias renováveis em relação às fósseis e a ênfase na eficiência energética como opção para baixar custos, estão fazendo o seu papel.
(Por Fernanda B Muller, Carbono Brasil, 14/09/2010)